terça-feira, 25 de novembro de 2008

Neruda

"Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. Nos se hacia donde voy.
... Desde tu corazon me dice adios un nino
Y yo le digo adios"

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

ao panico

e foram esquecidas as margens do desamparo

como as folhas de um outono
como os passos de uma noite embriagada


e deixou flores esse vácuo inconsistente
no lugar onde viviam os amantes
ou foram ouvidos risos
ou onde chovia imperceptível um tempo finito


em outras palavras, a tua ausência



voltaram então, como demónios
as elegias de um deserto embranquecido
e as leves interrupções desesperadas
do fim da fala


onde se acumula o inanimado
como objectos de uma outra casa


voltaram e vingaram no silencio
a raiva e uma solidão
como quem lamenta o partido
como quem não poderia


e não nada
onde e' recusa
e não saída

domingo, 23 de novembro de 2008

avisa

"clareia minha vida amor
no olhar..."

vai o medo em mim
ao fim de mim
e eu que calo essa verdade
e esqueço
as coisas desta morte

vou ao lado dela
que a cada instante
e' eternidade
- eternidade

e me perco também
e não existo
se não essa brisa
se não uma perda
tão constante

e desaprendi a poesia
e desaprendi o sofrimento


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

delicadeza

essa flor pede um vaso
constante no laço
ardente do amor
essa flor pede a palma
da carne ao aço
vermelho do traço 
do sangue da dor
essa flor pede a calma
tao plena de alma
o silencio ao rancor
e esse amor pede ao dia
que a noite adormeça
de dia em torpor
e esse abrir pede o toque
que guia a beleza
na busca da flor

terça-feira, 11 de novembro de 2008

drummond

"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."

sábado, 8 de novembro de 2008

5 21 ou fonte

meu fogo sagrado
mulher que do lado
encerra o passado
no instante encontrado
no rosto tocado
num mundo esperado
um sonho, o recado
da vida ou de Deus.

mulher
que ressoa
a chama da noite,
mulher que acolhe
o espírito vivo,
da fome, o anseio
da busca, o temer.

sou eu que dos braços
me lanço da ponte
do rio de um adeus.

sou eu
que descalço
caminho cansado
a procura de ti.

me perco, meu fogo, e perdi.

sou teu,
como um homem,
é filho da luz.

e não, quero mais
a solidão.