quarta-feira, 14 de outubro de 2009

saudade

Carolina era passional. Nao como as pessoas, por vezes, denominam paixão, mas no sentido de raiz, como sofrimento. Não sei como a menina tímida e calada inverteu sua ferida, mas a mulher que eu conheci nos últimos quinze anos, roeu o que lhe prendia.
Raging against the dying of the light, Carolina hoje estaria ocupada com alguma coisa ou alguém que lhe refletisse a torrente de vida: alguma amiga simplesmente genial, algum escritor que sangrasse um poema desconhecido, algum amante que hesitasse a beira do abismo. Não sei como ela viveria a lei antifumo, mas vejo seus olhos semicerrados entre baforadas, bela como um anjo caido, a boca roxa de vinho, achando esse texto simplesmente ridículo.
Pouco antes da ultima vez que nos vimos, Carolina passou um sábado comigo em que estivemos muito próximos. Como grandes aliados, comemos uma feijoada ao som de Dorival Caymi num melancólico restaurante da Vila Madalena. Eu ficava infernal com Carolina por que ninguém ria tanto das minhas piadas como ela - o bom e velho Pepinho! Eu fiz inúmeras vozes e imitações para o seu deleite. Mais tarde ela se perdeu de mim no auge do O do Borogodó. A noite vinha e a levava.
Carolina rompeu com os que ainda esperavam alguma coisa dela. Bravo!
Carolina que não me perdoou.
Carolina que doce continha a ultima conta, e que um dia ia parar de sofrer e viajar pela Índia, ou viver em Paris com gatos, ou no Itaim Bibi, ser vista naquela
Vaca Veia insuportável combatendo um garçom!
Eu contava com Carolina para me mostrar o avesso da minha indiferença. Para ver a graça que ela fazia de mim.
Saudade...
"Ah meu amorrrrrrrrrr."