segunda-feira, 21 de abril de 2008

Rumi


"This sense is closed to all except the senseless, and words are all the ear can ever purchase.
In all our grief the days turned into nights, the days fell into step with searing pains.
If days are gone, say "Go! There is no fear, and stay, O You who are uniquely holy."
His flood deluges all except the fish; the day is long for him who has no bread.
The raw can't grasp the state of one who's cooked, so this discussion must be brief - farewell!
Be free, my son, and break your chains asunder!"

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Rumi

"The way of love is not
a subtle argument.
The door there
is devastation.
Birds make great sky-circles
of their freedom.
How do they learn it?
They fall, and falling,
they're given wings"

quinta-feira, 6 de março de 2008

w.w.


"O me! O life!... of the questions of these recurring;
Of the endless trains of the faithless--of cities fill'd with the foolish;
Of myself forever reproaching myself, (for who more foolish than I, and who more faithless?)
Of eyes that vainly crave the light--of the objects mean--of the struggle ever renew'd;
Of the poor results of all--of the plodding and sordid crowds I see around me;
Of the empty and useless years of the rest--with the rest me intertwined;
The question, O me! so sad, recurring--What good amid these, O me, O life?

Answer.

That you are here--that life exists, and identity;
That the powerful play goes on, and you will contribute a verse."

segunda-feira, 3 de março de 2008

captain, my captain!



energy for Reich

1. It is mass free
2. It is omnipresent. Orgone energy fills all space in differing degrees of concentrations.
3. It is the medium for electromagnetic and gravitational phenomena.
4. It is in constant motion.
5. It “contradicts” the law of entropy. It is attracted to itself.
6. It forms units that are the foci of creative activity such as bions, clouds and galaxies.
7. Matter arises from mass-free orgone energy.
8. It is responsible for the phenomena of life and spontaneous generation of living organisms out of non-living matter.
9. Superimposition Function: separate streams of orgone energy may be attracted to each other and converge in a spiral form. This convergence of energy may be viewed in cyclonic storms and is the principle expression of mating in living nature.
10.It can be manipulated and controlled by orgone energy devices.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Rumi

"This is love: to fly toward a secret sky,
to cause a hundred veils to fall each moment.
First, to let go of life.
In the end, to take a step without feet;
to regard this world as invisible,
and to disregard what appears to be the self.

Heart, I said, what a gift it has been
to enter this circle of lovers,
to see beyond seeing itself,
to reach and feel within the breast."

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Levinas

"O ente é o homem, e é enquanto próximo que o homem é acessível. Enquanto rosto."

sábado, 16 de fevereiro de 2008

kanji

“Um jeito de amar foi embora com ela”. Foi o que lhe disse o amigo no terceiro chopp do domingo. E ele, olhando o gol do Fluminense através da TV, não via nada.“O Paulo, por exemplo, quase ficou louco e no final tatuou o nome da namorada em japonês. Isso depois dela ter se casado com outro”. E ele pensou na estatueta que comprara um dia antes, um casal em bronze fundido num abraço. “Rasgou o nome da mulher na perna para esquece-la para sempre."

E aquela frase merecia um conto. Um jeito de amar foi embora com ela. E em cima da elegante cristaleira depositou a materialização do mais antigo devaneio, a projeção de sua ultima ilusão, o mysterium coniunction pela mais persistente de suas fraquezas. "Mas o Paulo não estava namorando de novo"? "Só se for uma por semana". “E porque em japonês?”

“El destino siempre nos conduce a lo que teníamos de ser”. “Jung?” “Não, Sabato”. “Quem é esse?”. “Abri o livro e li: vuelvo a deslumbrar los umbrales del Absoluto”. “Seu espanhol é uma merda". "Toma mais um chopp".

domingo, 10 de fevereiro de 2008

transcendência

Era como uma miragem o jovem sentado no banco de esquina da rua Oscar Freire. De seu instrumento saiam, como os íons da Beleza, as suítes para violoncelo de Johann Sebastian Bach. E ao lado do artista, absorto pelo instante, ele pode admirar com os olhos o saber mais profundo daquela música: os castelos inacabados da alma, a vertigem incessante dos abismos, a generosidade de Deus. Ou algo assim. E mesmo que seu Rayban fosse roubado outras dez vezes num estacionamento de Valet, e que ele tivesse mais cem discussões com o gerente do estabelecimento, e que ainda oitenta prestações, em vez de duas, tivessem que ser pagas pelo maldito par de lentes, seu dia, aquele dia, estava garantido. Bach com sua inigualável capacidade de pôr as coisas no lugar. Quem poderia amaldiçoar uma inevitável quadrilha de manobristas depois da ultima Saraband?
Era do Acre o artista quando jovem, acumulando as esparsas moedas da sobrevivência para a republica onde morava. Sua camiseta denunciava que só não faltava o pão. Praticava na rua, e ninguém parou nos vintes minutos em que ele se sentou junto a esse querubim, porta voz do sagrado, um mulato de sorriso fácil e olhos acesos. Conversaram entre o Mercedes Benz e a vendedora que fumava na calçada.
Quando leu os poemas de D. H. Lawrence pela primeira vez sentiu um formigamento nas mãos. Quando descobriu Rumi, entendeu Reich e o abandonou para sempre. Quando foi de Beethoven para Bach, aceitou a morte como o andróide de Blade Runner: “all those moments will be lost in time like tears in rain”.
Caminhou até a loja da Adidas e trocou o par de chuteiras e a bola por um agasalho felpudo. Depois de duas operações no joelho, só jogaria futebol dormindo. Uma vez por semana corria pelas quadras da quimera. Seus amigos de infância e a seleção de oitenta e dois eram aclamados pela torcida do Corinthians.
Insultos e limites, e as suítes de Bach. “I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I've watched C beams glitter in the dark near the Tannhauser gate…”

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

cinzas

Sua viagem tinha durado dois dias. Ele não precisou resistir. A pequena cidade tinha sido invadida por visigodos, e sobrevivia vendendo mantimentos inflacionados. Mulheres eram o artigo de luxo e podiam ser disputadas por agarrões, perseguições implacáveis, beijos-surpresa, e até tropeções. Descamisados, os foliões exibiam suas correntes de prata, e as tatuagens borrão cintilavam ao mormaço interiorano. Foi confundido duas vezes por um turista estrangeiro. O melhor item gastronômico era um churros de doce de leite, que dourando ao sol, tinha uma tendência ao brilho e um tônus peculiar. Depois de duas noites, abandonou o barco. O naufrágio era certo. Como dizia a marchinha: “São almas penadas dançando no além”.
Na casa, a melhor companhia e a melhor trilha sonora da região eram enriquecidas por vodcas ao flash power, haxixe, cannabis ativa e um LSD anfetamínico de efeito surpreendente. Apoderou-se de um pandeiro dos tempos de PUC e quase furou a lamina sonora algumas vezes. Foi testemunha da loucura alheia. Sua vigília era uma autentica manifestação da impossibilidade de dormir sem algum tipo de exaustão. Não era alheio a tudo aquilo, mas não conjugava. Nos olhos dos melhores amigos as flamas da incerteza eram suficientes.
De volta a São Paulo foi atropelado por um bloco de maracatu. O primeiro estacionamento selou o destino do carro e ele seguiu sem descobrir o rumo. Mais tarde informações desencontradas deram três endereços finais para a turba. Ninguém sabia para onde estava indo. Viu duas vezes o filme dos irmãos Coen. Veria o rosto de Tommy Lee Jones outras trinta.
Foi redimido pelo Ó do Borogodó. Há dois anos essa espelunca cheia de alma tinha entrado no roteiro de sua vida. Desta vez, com seus amigos, exorcizou até a gripe que o elegera na noite fria de São Luis. O Ó.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Desde que o samba é samba é assim


O bloco pré-carnaval era entre o bar e o cemitério. A rua de paralelepípedo estava cheia de gente e um homem barbado de cento e vinte quilos ostentava um vestido de sereia. Meninas bonitinhas sambavam com homens suados e os músicos sorridentes eram espremidos contra o trio elétrico. A cada momento o grupo de seus amigos pendia para umas das calçadas. Hora a corrente de gente os levava para o bar, hora para o grande muro que cercava a rua inteira. Pensou se isso era um sinal de que deveria voltar a beber. Mas não bebia há anos e uma cerveja lhe tirava mais do que lhe dava.
A Vila Madalena era ali, na rua cheia de samba. No Carnaval o tempo não conhece passado e qualquer história encontra redenção. E ele era arrastado para o boteco pensando se gostaria de arriscar outra vez, ou achar a hora certa de desbravar a fila do banheiro.
Estavam ele, um saci de perna quebrada, um rapaz segurando um melão, três bonequinhas de luxo, uma loira de olhos azuis e o namorado tatuado. A cantora da banda era melhor que a Beth Carvalho. O samba era lento e a voz cheia de resignação: “Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim, mas alguma coisa acontece no quando agora em mim, cantando eu mando a tristeza embora”. Depois de dez minutos descobriu-se, não sem surpresa, que todos esperavam diante do banheiro vazio. O saci falante não testou a porta e ficou por isso mesmo.
Viu a luz do sol que rompia pela primeira vez na tarde de sábado a massa escura das nuvens acinzentadas. Das estatuas que subiam mais altas que a parede cor de vinho, um anjo era observador. Até a quarta feira de cinzas e todas as outras, entre o bar e a casa dos mortos, a folia tinha um futuro próximo. O samba é a antítese da psicanálise.
Tomou um energético, maroto para os amigos, como se bebesse absinto. Podia dançar do alto de sua cabeça, alerta e infeliz. E gargalhar e cantar a essência cultural de um país que lhe era tão estranho quanto próprio. Um menininho na garupa do pai sacolejava feliz com seu revolver de água. Carnavais tinham lhe incrustado na alma as dezenas de marchinhas que conhecia de cor. Ele que quando pequeno guardava seu estoque de serpentinas como a um tesouro. Muito antes do advento do lança perfume.
“O samba ainda vai nascer, o samba ainda não chegou, o samba não vai morrer, veja o dia ainda não raiou”. Era o pré-carnaval. Ao que o homem sereia acrescentava depois de “não vai morrer”, “Nunca”!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

* * * *

a noite reza em seu silêncio
as figuras do tempo

e no escuro, tingidas lentamente
as ultimas alegorias de brilho
e além
um corpo em descanso

e o branco da lua
o esquecer do mar
e o frescor da brisa

e a alma que adormece
na efígie do eterno, do encontro
de lua e mar, na noite de um dia

sábado, 19 de janeiro de 2008

sem o céu que protege

“Someone once had said to her that the sky hides the night behind it, shelters the person beneath from the horror that lies above.”

Cada detalhe de seu apartamento, das ruas onde morava e trabalhava, da padaria onde tomava seus cafés da manhã, pedindo, inocentemente, “o de sempre”, pareciam agora transformados por uma espécie de desolação. Do consultório onde atendia dois ou três pacientes antes do almoço, até o Café onde lia durante a tarde, e depois ao voltar ao consultório para os pacientes da noite, ele experimentava uma variedade de sentimentos, uma imersão em suas faltas e solidão, em suas perdas e ressentimentos.
A noite era diferente. Ao avistar o gato que o esperava na porta do hall de entrada como um protótipo da carência, a miar compulsivamente e a segui-lo pelo apartamento, ele como que desistindo, e refém de uma sensação no meio do peito, deitava-se no chão de madeira. Uma vez ele fechou a janela pelos vizinhos. Em outro momento, totalmente imóvel e em silêncio, contemplara os fragmentos de frases que paravam em seu pensamento como galhos quebrados á beira de um rio.
Mas não seria diferente. Ao ler o “Céu Que Nos Protege” durante à tarde, ele encontrou uma frase e a releu varias vezes: “He was somewhere, he had come back through vast regions from nowhere; there was certitude of an infinite sadness at the core of his consciousness, but the sadness was reassuring, because it alone was familiar.” Era a segunda vez que ele se lançava aos abismos do livro de Paul Bowles. No verso da capa estavam o seu nome, e abaixo, escritos a mão, o lugar e a data: Nova York, 1995.
A hora dos porquês tinha passado. Uma década de Psicologia não o tinham libertado de nada senão da própria psicologia. Certas coisas são como são. Como vivê-las era o que ele queria aprender. Como suportar o que fugia totalmente ao seu controle, das coisas que lhe eram tão caras, e tão determinantes para a sua vida - para a vida como ele queria e cultivara.
Depois de quatro dias, a legião de fantasias e idéias distorcidas, cheias de medo, criaram seu mal estar. Imaginou na voz dela, algumas vezes, a frase que remediaria a sua pena como um ópio. Lembrou o que havia lhe dito o seu terapeuta no momento em que, duas horas antes, ele tentava explicar sobre o céu, que fica entre nós e a noite; o céu que para ele era o amor, e que tinha sido ela. Mas do nada, sem explicação, ouviu: “Você tem que aprender a se perdoar. Já está na hora”.

espera

essa falta

é o avesso da sua presença

é a sua presença sem a paz

que a tua presença me traz.

essa ausência

é o próprio desconhecido

é um não aceitar, incontido

- o próprio reconhecido,

do próprio que não se vai.

e essa versão de saudade

sofrendo de liberdade

padece da inquieta espera

do amor

e seus doces medos.

do amor que vela o sonho do amor,

do amor que responde ao silêncio.

do amor que alucina as distâncias

em esferas de esquecimento.

essa falta,

avesso da sua presença.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

4:46

não anoitece mais
dia após dia
esse escuro de fim de tarde
seguindo
parando o tempo

não sei se acordei
ainda noite
não pude ver, qual luz
se dormia, se sonhava

que distancia
eu media, ou que hora
de espera
ou que pena

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Robert Frost

"Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that, the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
two roads diverged in a wood, and I -
- I took the one less traveled by,
And that has made all the difference."

sábado, 24 de novembro de 2007

Bowles em Bertolluci


"Because we don't know when we will die, we get to think of life as an inexhaustable well. Yet everything happens only a certain number of times, and a very small number really. How many more times will you remember a certain afternoon of your childhood, some afternoon that is so deeply part of your being, that you can't even conceive of your life without it. Perhaps four or five times more, perhaps not even that. How many more times will you watch the full moon rise? Perhaps 20. And yet it all seems limitless."

Willy

"Shall I compare thee to a Summer's day?
Thou are more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And Summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd:
But thy eternal Summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st:
So long as men can breathe, or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee."

domingo, 18 de novembro de 2007

Keats

"That I might drink, and leave the world unseen,
And with thee fade away into the forest dim:
Fade far away, dissolve, and quite forget
What thou among the leaves hast never known,
The weariness, the fever, and the fret
Here, where men sit and hear each other groan;
Where palsy shakes a few, sad, last gray hairs,
Where youth grows pale, and spectre-thin, and dies;
Where but to think is to be full of sorrow
And leaden-eyed despairs,
Where Beauty cannot keep her lustrous eyes,
Or new Love pine at them beyond to-morrow..."

domingo, 11 de novembro de 2007

prece

ah meu irmão
salgaste meus olhos
você que conhecia o mundo
quando eu, da velha casa
apenas vigiava lá fora

irmão das maiores euforias
de todos por todos nós
ramo da familia
nosso semblante de ilusão

imagina-lo assim
tão preso a nós e
tão sozinho:
o filho da frente
o filho pródigo -
que fardo levaste

abandone
a insignia desse ramo
de sonho a espinho
a hora da tua vida
te pede

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O Passado (de Babenco)



o passado
não conhece
retorno

como cinza que voa
da chama do fogo

e se a nós se prende
o toque do instante
da vela que apaga
o fátuo restante

o passado
não conhece
retorno

O Passado (continuação)

partida que volta
intriga do tempo
manhã que entardece
um crepúsculo negro

o presente retorna
nas feridas do agora
das chagas as flores
da vida: os amores

e se o amor encerra
a saga da hora
na fuga, a demora
da espera, um alento

o presente é retorno
e o passado revive
no sonho sem tempo
dos amores que tive

do passado perdido
um presente partido
e um passado presente
perdido no sempre

terça-feira, 30 de outubro de 2007

um corpo

um corpo entre outros
(noite e vigília)
corpo de alma
de gozo e poesia.
da-se em atos
despercebidos
corpo retiro
do mundo no mundo.
meu corpo, de novo
(sombra de alma)
corpo que sangra
um copo de vida:
flecha e alvo,
luz e espelho
voz e soneto:
toca e vibra.
lembra de tudo
corpo partido
dor por não te
ter
corpo em suplício.
corpo e silêncio
que corpo, traído
que em ti, ainda pede
sonha, perdoa?
corpo de corpos
de amor, de limites
tão quente, de tudo
que chora, que diz.
um corpo não mente
comove, e doente
sente de novo
e se cura de si.
um corpo arrebata
de longe, ou cansado
corpo que resta
sozinho, alado.
corpo memória
e corpo futuro
corpo que agora
me faz
escrever

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

D. H. Lawrence


"All I care about in a man
is that unbroken spark in him
where he is himself
undauntedly.

And all I want is to see the spark flicker
vivid and clean.

But our civilisation, alas,
with lust crushes out the spark
and leaves men living clay.

Because when the spark is crushed in a man
he can't help being a slave, a wage-slave,
a money-slave."

quinta-feira, 25 de outubro de 2007


João Paiva

do querido amigo e colega João, homem de mil mitos

"Há de abrir-se a flor do espinheiro
num manancial de ternura.

E da haste da fraqueza há de abrir-se,
um ninho de cuidado.

Onde as chagas serão flores,
na palma do coração.

E as dores, frutos alados,
na palma do coração.

E no sal da criança em madureis
há de vir o habitante do inóspito,
sem banir da haste o vulnerável.

Nos remansos da inquietude
esse cordão de alma
vige numa espera,

Que rasga, a cada vez,
as malhas de lã de ferro
coladas na pele,
abrindo brechas."

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

União


Quando duas almas se encontram, tudo o que compõe os dois seres pede para ter um lugar. Como se não houvesse uma voz que não pudesse ser ouvida. Como se não houvesse uma nuança do rosto que não pertencesse a vida. E é esse o desafio do amor: o impacto da verdade de cada um.
O amor é o abrigo das maiores alquimias. E é no enlace do amor que um vínculo estranho se dá - como quem enraíza os pés descalços na terra quente. Como quem reencontra a União. É disso que falam os místicos; que delineiam os poetas. E é nisso que resvalam os psicólogos, os que perderam um pouco do orgulho, pelo menos. Há um encontro para cada um de nós. E um encontro em nós. O resto, é esperança.
Portanto, não percamos de vista o pedido do coração. Não afugentemos as dores e as penas da alma que revive. É possível caminhar de mãos dadas, e as mãos se dão.

Cosmic Superimposition

"Let us forget for a moment all the complicated higher functions that later are added to natural superimposition. Let us reduce it all to functioning beyond the individual and even the realm of the species. Let us penetrate deeply enough to see this function as an energy process that runs a certain course quite autonomically and with unequivocal effect. If we do this, then we see in it a trans-individual event, something that takes charge of life and governs it."

Wilhelm Reich
os místicos

os artistas






e o universo









Rumi

"If anyone asks you
how the perfect satisfaction
of all our sexual wanting
will look, lift your face
and say,

Like this.

When someone mentions the gracefulness
of the nightsky, climb up on the roof
and dance and say,

Like this.

If anyone wants to know what "spirit" is,
or what "God’s fragrance" means,
lean your head toward him or her.
Keep your face there close.

Like this.

When someone quotes the old poetic image
about clouds gradually uncovering the moon,
slowly loosen knot by knot the strings
of your robe.

Like this.

If anyone wonders how Jesus raised the dead,
don’t try to explain the miracle.
Kiss me on the lips.

Like this. Like this.

When someone asks what it means
to "die for love," point
here.

If someone asks how tall I am, frown
and measure with your fingers the space
between the creases on your forehead.

This tall.

The soul sometimes leaves the body, then returns.
When someone doesn’t believe that,
walk back into my house.

Like this.

When lovers moan,
they’re telling our story.

Like this.

I am a sky where spirits live.
Stare into this deepening blue,
while the breeze says a secret.

Like this.

When someone asks what there is to do,
light the candle in his hand.

Like this.

How did Joseph’s scent come to Jacob?

Huuuuu.

How did Jacob’s sight return?

Huuuu.

A little wind cleans the eyes.

Like this.

When Shams comes back from Tabriz,
he’ll put just his head around the edge
of the door to surprise us

Like this."

poema cru (ou repetição)

traído pela fonte
vi morrer meu avô
um amigo advertida
mente, chutou-me no rosto
perdi a virgindade
e troquei a inocência
por um cálice de vinho.

Parti

elegi uma cidade
elegi um amor
mas não escolhi
fui ensandecendo
fui, e incandesci
de novo partindo
de novo perdi
que novo?

voltei

chove copiosamente
ouço música
não lembro as palavras
(e estou cansado)

continua voltando
continuo voltando?
até quando,
pra onde

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Rabindranath Tagore


"Sou como um caminho dentro da noite, ouvindo, em silêncio, os passos da própria memória"

"Perdi minha gota de orvalho" - diz a flor ao céu, que perdeu todas as suas estrelas"

"Vivemos neste mundo quando o amamos"

"Os homens são cruéis, mas o Homem é bom"

"Meu amor, não peço para entrar em tua casa. Vem tu para minha infinita solidão"

"Deus prefere as lamparinas dos homens às suas estrelas imensas"

"Coração meu, procura tua beleza no movimento do mundo, assim como o barco encontra sua graça na agua e no vento"

"Meu Deus, aqueles que possuem tudo menos a ti, riem-se daqueles que nada possuem, além de ti"

"O sofrimento do amor canta em torno da minha vida como o mar insondável, e a alegria do amor canta como os pássaros nos bosques floridos"

"Este é o mundo das tempestades selvagens, domadas pela música da beleza"

"Em seu amor, Deus beija o finito; o homem beija o infinito"

"Deus fica esperando que o homem se torne criança na sabedoria"

"E minha ultima palavra é esta: Eu confio em teu amor"

John Donne

"No man is an island, entire of itself
every man is a piece of the continent, a part of the main
if a clod be washed away by the sea,
Europe is the less, as well as if a promontory were,
as well as if a manor of thy friends or of thine own were
any man's death diminishes me, because I am involved in mankind
and therefore never send to know for whom the bell tolls
it tolls for thee."

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

poema em feminino


refém do tempo
vou sucumbindo ao feminino
desses gestos, desde ventos
densa curva dos cabelos,
e deixando dissipar a agonia

e preso a um exercício
toda a irrupção da liberdade:
são gestos vermelhos, estes
numa escolha dos meus olhos:
os detalhes de uma saia
o relevo atrevido de uma coxa
a sarda mal contada de um seio
menor e irascível
quase improdutivo

quanta desproporção numa flauta

e no meio de tanta coisa
de tanta fala inaudível
estou ali
tenho certeza

a magia incandescente
a impropriedade absurda
a imensa delicadeza

Rumi


“We are the mirror as well as the face in it.
We are tasting the taste this minute
of eternity. We are pain
and what cures pain, both. We are
the sweet cold water and the jar that pours.

I want to hold you close like a lute,
So we can cry out with loving.

You would rather throw stones at a mirror?
I am a mirror, and here are the stones.”

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

---------

me despeço também de você
o que é mais dificil
porque des pedir de você
é morrer
é ter morrido
é quase estar morto

mas eu tenho que nascer
outra vez

adeus olhos meus

intregrar

se entregar e se integrar
ao vivo com o não vivo
na contração da expansão

e infindas circulares
in vortexis azuis
os rodopios dervixes
de intencionalidade e amor

e talvez nos aproximemos
- tu e eu
e talvez nossas estrelas
como entes perdidos
que nas noites mais claras
revelam-se
- sejam olhos luminosos

e ao se integrar, se entregar
na evocação e na distância
na sombra dos movimentos incompletos
no fluxo desses deuses
a respiração
a convulsão em silêncio

e ainda assim
e ainda sim

se entregar e se integrar

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Manuel

"Vão demolir esta casa.
Mas meu quarto vai ficar,
Não como forma imperfeita
Neste mundo de aparências:
Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, com seus quadros,
Intacto, suspenso no ar!"

fazenda

adeus barra funda

ainda
impregna tua areia
ainda chove em teu verde
à noite
escuto a tua mata
mas
adeus


deixo você, e em cada canto
em você, sabe, de mim

tão de mim
minha raiz do teu solo
minha ressaca adolescente
no nascer do teu dia

pula Samba, derruba o refugo
"Ourora" de ouro
puro sangue inglês

nos sonhos, tuas casas
que nunca ruínas
tu, guardas minha alma
que eu cuido de ti

de longe
saudoso
te digo, o adeus

a deus, barra funda
a Deus

Vinícius

"Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
Penetrando lentamente nas solidões de minha espera
E tu eras, coisa linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera

Vinhas cheia de alegria, coroada de guirlandas
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas

Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, coisa linda
Como a fonte inacessível que de súbito está perto

Pelas rútilas ameias do teu sorriso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.

E eu te juro, coisa linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.

E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, coisa linda, dar te muitas coisas lindas...."

T. S. Eliot

"Let us go then, you and I,
When the evening is spread out against the sky
Like a patient etherised upon a table;
Let us go, through certain half-deserted streets,
The muttering retreats
Of restless nights in one-night cheap hotels
And sawdust restaurants with oyster-shells:
Streets that follow like a tedious argument
Of insidious intent
To lead you to an overwhelming question …
Oh, do not ask, “What is it?”
Let us go and make our visit."

D. H. Lawrence


"Fidelity and love are two different things, like a flower and a gem.
And love, like a flower, will fade, will change into some-
thing else
or it would not be flowery.

O flowers they fade because they are moving swiftly; a
little torrent of life
leaps up to the summit of the stem, gleams, turns over
round the bend
of the parabola of curved flight,
sinks, and is gone, like a comet curving into the invisible.

O flowers they are all the time travelling
like comets, and they come into our ken
for a day, for two days, and withdraw, slowly vanish again.

And we, we must take them on the wind, and let them go.
Embalmed flowers are not flowers, immortelles are not
flowers;
flowers are just a motion, a swift motion, a coloured
gesture; that is their loveliness. And that is love.

But a gem is different. It lasts so much longer than we do
so much much much longer
that it seems to last forever.
Yet we know it is flowing away
as flowers are, and we are, only slower.
The wonderful slow flowing of the sapphire!

All flows, and every flow is related to every other flow.
Flowers and sapphires and us, diversely streaming.
In the old days, when sapphires were breathed upon and
brought forth
during the wild orgasms of chaos
time was much slower, when the rocks came forth.
It took aeons to make a sapphire, aeons for it to pass away.

And a flower it takes a summer.

And man and woman are like the earth, that brings forth
flowers
in summer, and love, but underneath is rock.
Older than flowers, older than ferns, older than fora-
miniferae older than plasm altogether is the soul of a man under-
neath.

And when, throughout all the wild orgasms of love
slowly a gem forms, in the ancient, once-more molten
rocks
of two human hearts, two ancient rocks, a man’s heart
and a woman’s,
that is the crystal of peace, the slow hard jewel of trust,
the sapphire of fidelity.
The gem of mutual peace emerging from the wild chaos of love. "

Ezra Pound




"Go, my songs, to the lonely and the unsatisfied,
Go also to the nerve-wracked, go to the enslaved-by-convention,
Bear to them my contempt for their oppressors.
Go as a great wave of cool water,
Bear my contempt of oppressors. -
Speak against unconscious oppression,
Speak against the tyranny of the unimaginative,
Speak against bonds.
Go to the bourgeoise who is dying of her ennuis,
Go to the women in suburbs.
Go to the hideously wedded,
Go to them whose failure is concealed,
Go to the unluckily mated,
Go to the bought wife,
Go to the woman entailed. -
Go to those who have delicate lust,
Go to those whose delicate desires are thwarted,
Go like a blight upon the dulness of the world;
Go with your edge against this,
Strengthen the subtle cords,
Bring confidence upon the algae and the tentacles of the soul. -
Go in a friendly manner,
Go with an open speech.
Be eager to find new evils and new good,
Be against all forms of oppression.
Go to those who are thickened with middle age,
To those who have lost their interest. -
Go to the adolescent who are smothered in family-
Oh how hideous it is
To see three generations of one house gathered together!
It is like an old tree with shoots,
And with some branches rotted and falling. -
Go out and defy opinion,
Go against this vegetable bondage of the blood.
Be against all sorts of mortmain."

Ezra Pound

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

e.e. cummings


"somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look will easily unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully,mysteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully , suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands"

Dylan Thomas



"And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion."

Dylan Thomas

W. B. Yeats

"Had I the heaven's embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams."

Hermann Hesse

"A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo. A ave voa para Deus. O deus se chama Abraxas".

terça-feira, 2 de outubro de 2007

...


wait no more, change nothing
it has come
cold and ugly, with silent power
driving the night to find its day
making dreams of lost forms
as ruined souls

wait nothing, change has come
from eyes, decay
as from lips, silent words

change nothing
it has come

anima

no seu rosto
a alegria e a tristeza encontram
refúgio, juntas

como no palco
sua alma, revestida de energia
silencia

e mesmo com o corpo jogado
a um canto, ou deformado
essa alma complacente
revela, anseio por anseio
a completude

você despertou algo em mim
(algo despertou em mim)
como a própria anima
redescobrindo o tempo

rendição

quando lanço-me agora
a seguir esse amor que vem
como ameaça de eternidade
lanço-me no escuro de todas as paisagens
que foram minhas

se perco agora, algo
que decidi amar
meu destino torna-se meu esforço
na contemplação de uma solidão
no silêncio de uma falta
na agonia de um vazio

há o infinito instante em que nos tocamos

se perco agora
que me despi e nada controlo
perco tudo o que perdi
sou essas oferendas
que faço com minha alma

por que vieste com a manhã
e precisei de você como o fim da noite
precisa do brilho das estrelas

por isso tive medo

renascerei?

glassworks


quero me afogar em música
para esquecer de rimas
e no pulso desse fluxo
quero entornar melodias

quero me perder, finalmente
e cegar esse olhos
fotofóbicos de silêncio

quero morrer nesse impulso
e celebrar este instante

quero o ritmo e ainda
através das palavras
a corrente desses gritos

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A. Rimbaud


"Elle est retrouvée,
Quoi? - L' éternité,
C'est la mer mêlée au soleil."