Espírito
Ofuscado pela vida
Volta a alçar velas
Diante do mar infinito
A lançar-se ao estranho
Vem, outra vez, emocionar o criador
com seu desejos.
Liberte-se de mim
Esse eu desgovernado
Que te legando a espera, perdeu-se ate de ti.
Vem, Espírito
Mesmo com teus ímpetos
Tinge, outra vez, com teu vermelho
A noite, o fim do medo,
A compor um azul com a morte,
E ir alem...
sexta-feira, 2 de março de 2012
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Chinsagu No Hana - a Nudez e o Nu
Pensar a nudez e o nu... Pensar o que desnudamos quando tiramos a roupa.
Muito recentemente, num workshop de Butoh dirigido pelo grande artista japonês Tadashi Endo, tive a impressão de ver a alma dançando. Fui a esse workshop por causa do filme Hanami – Cerejeiras em Flor, em que pela estranha dança oriental, os personagens se comunicavam com os mortos.
Foram movimentos leves e mínimos os que nos instruíram a fazer, na lentidão característica do que não se automatiza. Sai do workshop em êxtase. Experimentei o corpo como me agrada pensá-lo: uma capa para alma.
No dia seguinte, uma experiência cotidiana: a caminho da padaria, numa banca de jornal do bairro, observo que a maioria das participantes do insólito Big Brother Brasil exibe seus corpos em diferentes revistas. Lá estavam elas, as últimas mulheres mutantes, com seus corpos a venda mais uma vez.
O corpo e a alma: a nudez do nu.
Se emprestarmos uma alegoria de um belíssimo filósofo do século passado, diríamos que o corpo inteiro é um rosto. Uma delicadeza desconcertada, o humano no Homem se apresenta como a vulnerabilidade irreproduzível de uma face. Naquilo que ele tem de singular, para Emmanuel Levinas, o rosto é fragilidade. Em corpo inteiro, para mim, esse rosto que somos é a alma que dança o corpo no Butoh.
Pensar a nudez então como um desabrigar daquilo que está desabrigado. O nu como uma dimensão ontológica.
Ultima cena:
Lembro-me de quando eu era criança e me deparei com uma revista pornográfica. Senti um fascínio incontrolável e uma náusea muito particular. O fascínio era a excitação do medo, a náusea era o efeito do choque. Voltei a essa revista inúmeras vezes, voltei ao medo e a náusea até aprender a me descarregar deles de forma efetiva. Trauma, repetição e gozo. A psicanálise nos ensina que a infância nunca acaba ainda que nunca mais sejamos crianças
Sedução e abandono:
Um corpo que se despe diante de olhares que não vêem o nu em sua nudez. Um corpo que despido, inclusive de si, brutaliza, com sua nudez, o olhar.
Mulheres encouraçadas e um corpo sem psique.
O feminino que se vê diante da sexualidade sem ternura, de uma cultura que tem pelo corpo um fetiche e o transforma num objeto sem imperfeições, ou seja, sem sofrimento.
Narcisismo em consumo: Corpos que valem mais quanto maior a perda de inocência.
A alma se esconde ao assalto e a personalidade se divide em partes incomunicáveis. Os corpos gladiadores, produzidos por horas de academia, hipnotizam pela ausência de rosto. Mas que onanismo é esse que praticamos em massa, e o que são esses corpos imaginários a quem podemos fazer qualquer coisa?
A nudez como violência e o segredo do Butoh.
Muito recentemente, num workshop de Butoh dirigido pelo grande artista japonês Tadashi Endo, tive a impressão de ver a alma dançando. Fui a esse workshop por causa do filme Hanami – Cerejeiras em Flor, em que pela estranha dança oriental, os personagens se comunicavam com os mortos.
Foram movimentos leves e mínimos os que nos instruíram a fazer, na lentidão característica do que não se automatiza. Sai do workshop em êxtase. Experimentei o corpo como me agrada pensá-lo: uma capa para alma.
No dia seguinte, uma experiência cotidiana: a caminho da padaria, numa banca de jornal do bairro, observo que a maioria das participantes do insólito Big Brother Brasil exibe seus corpos em diferentes revistas. Lá estavam elas, as últimas mulheres mutantes, com seus corpos a venda mais uma vez.
O corpo e a alma: a nudez do nu.
Se emprestarmos uma alegoria de um belíssimo filósofo do século passado, diríamos que o corpo inteiro é um rosto. Uma delicadeza desconcertada, o humano no Homem se apresenta como a vulnerabilidade irreproduzível de uma face. Naquilo que ele tem de singular, para Emmanuel Levinas, o rosto é fragilidade. Em corpo inteiro, para mim, esse rosto que somos é a alma que dança o corpo no Butoh.
Pensar a nudez então como um desabrigar daquilo que está desabrigado. O nu como uma dimensão ontológica.
Ultima cena:
Lembro-me de quando eu era criança e me deparei com uma revista pornográfica. Senti um fascínio incontrolável e uma náusea muito particular. O fascínio era a excitação do medo, a náusea era o efeito do choque. Voltei a essa revista inúmeras vezes, voltei ao medo e a náusea até aprender a me descarregar deles de forma efetiva. Trauma, repetição e gozo. A psicanálise nos ensina que a infância nunca acaba ainda que nunca mais sejamos crianças
Sedução e abandono:
Um corpo que se despe diante de olhares que não vêem o nu em sua nudez. Um corpo que despido, inclusive de si, brutaliza, com sua nudez, o olhar.
Mulheres encouraçadas e um corpo sem psique.
O feminino que se vê diante da sexualidade sem ternura, de uma cultura que tem pelo corpo um fetiche e o transforma num objeto sem imperfeições, ou seja, sem sofrimento.
Narcisismo em consumo: Corpos que valem mais quanto maior a perda de inocência.
A alma se esconde ao assalto e a personalidade se divide em partes incomunicáveis. Os corpos gladiadores, produzidos por horas de academia, hipnotizam pela ausência de rosto. Mas que onanismo é esse que praticamos em massa, e o que são esses corpos imaginários a quem podemos fazer qualquer coisa?
A nudez como violência e o segredo do Butoh.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
saudade
Carolina era passional. Nao como as pessoas, por vezes, denominam paixão, mas no sentido de raiz, como sofrimento. Não sei como a menina tímida e calada inverteu sua ferida, mas a mulher que eu conheci nos últimos quinze anos, roeu o que lhe prendia.
Raging against the dying of the light, Carolina hoje estaria ocupada com alguma coisa ou alguém que lhe refletisse a torrente de vida: alguma amiga simplesmente genial, algum escritor que sangrasse um poema desconhecido, algum amante que hesitasse a beira do abismo. Não sei como ela viveria a lei antifumo, mas vejo seus olhos semicerrados entre baforadas, bela como um anjo caido, a boca roxa de vinho, achando esse texto simplesmente ridículo.
Pouco antes da ultima vez que nos vimos, Carolina passou um sábado comigo em que estivemos muito próximos. Como grandes aliados, comemos uma feijoada ao som de Dorival Caymi num melancólico restaurante da Vila Madalena. Eu ficava infernal com Carolina por que ninguém ria tanto das minhas piadas como ela - o bom e velho Pepinho! Eu fiz inúmeras vozes e imitações para o seu deleite. Mais tarde ela se perdeu de mim no auge do O do Borogodó. A noite vinha e a levava.
Carolina rompeu com os que ainda esperavam alguma coisa dela. Bravo!
Carolina que não me perdoou.
Carolina que doce continha a ultima conta, e que um dia ia parar de sofrer e viajar pela Índia, ou viver em Paris com gatos, ou no Itaim Bibi, ser vista naquela
Vaca Veia insuportável combatendo um garçom!
Eu contava com Carolina para me mostrar o avesso da minha indiferença. Para ver a graça que ela fazia de mim.
Saudade...
"Ah meu amorrrrrrrrrr."
Raging against the dying of the light, Carolina hoje estaria ocupada com alguma coisa ou alguém que lhe refletisse a torrente de vida: alguma amiga simplesmente genial, algum escritor que sangrasse um poema desconhecido, algum amante que hesitasse a beira do abismo. Não sei como ela viveria a lei antifumo, mas vejo seus olhos semicerrados entre baforadas, bela como um anjo caido, a boca roxa de vinho, achando esse texto simplesmente ridículo.
Pouco antes da ultima vez que nos vimos, Carolina passou um sábado comigo em que estivemos muito próximos. Como grandes aliados, comemos uma feijoada ao som de Dorival Caymi num melancólico restaurante da Vila Madalena. Eu ficava infernal com Carolina por que ninguém ria tanto das minhas piadas como ela - o bom e velho Pepinho! Eu fiz inúmeras vozes e imitações para o seu deleite. Mais tarde ela se perdeu de mim no auge do O do Borogodó. A noite vinha e a levava.
Carolina rompeu com os que ainda esperavam alguma coisa dela. Bravo!
Carolina que não me perdoou.
Carolina que doce continha a ultima conta, e que um dia ia parar de sofrer e viajar pela Índia, ou viver em Paris com gatos, ou no Itaim Bibi, ser vista naquela
Vaca Veia insuportável combatendo um garçom!
Eu contava com Carolina para me mostrar o avesso da minha indiferença. Para ver a graça que ela fazia de mim.
Saudade...
"Ah meu amorrrrrrrrrr."
quarta-feira, 15 de julho de 2009
2.
Existe então
essa ferida escondida
que reúne no centro do
corpo, vozes, sonhos e
solidão. Existe então
no útero calmo quando
não respiro, uma dor.
Dor sem pranto,
dor sem dono,
dor que não responde,
dor presente.
São certos os rumos
que seguem essas
células de minérios
incandescentes.
Sou essa dor, e
essa dor não é.
Existo então, como
depois da madrugada
sem chuva, o
orvalho do vale,
a geada ao sol.
Seguem os rumos
destas partículas
de despedidas,
como se
existíssemos.
essa ferida escondida
que reúne no centro do
corpo, vozes, sonhos e
solidão. Existe então
no útero calmo quando
não respiro, uma dor.
Dor sem pranto,
dor sem dono,
dor que não responde,
dor presente.
São certos os rumos
que seguem essas
células de minérios
incandescentes.
Sou essa dor, e
essa dor não é.
Existo então, como
depois da madrugada
sem chuva, o
orvalho do vale,
a geada ao sol.
Seguem os rumos
destas partículas
de despedidas,
como se
existíssemos.
terça-feira, 14 de julho de 2009
1.
Quais palavras
guardam em mim
este silencio. Se eu
pedisse qualquer outra
coisa. Se outra vez
ignorasse o tempo
de não saber.
Falar de amor,
perguntar
as mesmas coisas?
Não existem signos
diante deste céu
de rosto, de suplica
sem desejo. Quais
palavras levam
para onde
não se fazem
tu e eu.
E não se fazem.
guardam em mim
este silencio. Se eu
pedisse qualquer outra
coisa. Se outra vez
ignorasse o tempo
de não saber.
Falar de amor,
perguntar
as mesmas coisas?
Não existem signos
diante deste céu
de rosto, de suplica
sem desejo. Quais
palavras levam
para onde
não se fazem
tu e eu.
E não se fazem.
domingo, 31 de maio de 2009
Pepinho
finalmente você decidiu
levar com você a nossa tristeza.
calada e sozinha
rompeu a noite avessa
com um verso de Celan
- o seu Celan.
mas tua ira, tua falta, a agonia
são versos nossos, essa ironia
os mesmos calices de vinho
onde exitei e voce foi - sem ninguem
me vem teu riso, tua graça,
tua delicadeza. lembro dos demonios
coroados de ousadia. mas ficamos sem você,
sem saber; confusos do amor que não te demos.
eu que te rejeitei e sofri da armadilha de uma dor
eu que cai no fogo cego da maldição que compartimos
(se eu pudesse eu te punha no colo e te dava os beijos de irmazinha que pedias. te diria de uma vez por todas que essa loucura é uma brisa, que somos crianças ainda. eu te pediria perdão e não deixaria voce escapar a minha mais cara piada.
por teu riso, por mim, por cada um de nós.
levar com você a nossa tristeza.
calada e sozinha
rompeu a noite avessa
com um verso de Celan
- o seu Celan.
mas tua ira, tua falta, a agonia
são versos nossos, essa ironia
os mesmos calices de vinho
onde exitei e voce foi - sem ninguem
me vem teu riso, tua graça,
tua delicadeza. lembro dos demonios
coroados de ousadia. mas ficamos sem você,
sem saber; confusos do amor que não te demos.
eu que te rejeitei e sofri da armadilha de uma dor
eu que cai no fogo cego da maldição que compartimos
(se eu pudesse eu te punha no colo e te dava os beijos de irmazinha que pedias. te diria de uma vez por todas que essa loucura é uma brisa, que somos crianças ainda. eu te pediria perdão e não deixaria voce escapar a minha mais cara piada.
por teu riso, por mim, por cada um de nós.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
quarta-feira, 6 de maio de 2009
casinha
infelizmente, a perda
me abriu as portas do sagrado.
tem sido assim, no adeus
e cansado,
vou desfazendo propriedades
desprendendo do tão caro
- desfaço o laço no sonho antigo
e despeço o todo a partir de um pedaço:
no adeus
Mata em chama e calada
rios, flores e passaros.
ha luzes do entre galhos
um alburno
estraçalhado.
Cheia de vida
orgone de outras terras
partida em frangalhos.
casinha de terra e poesia
que pena
que saudade de mim
me abriu as portas do sagrado.
tem sido assim, no adeus
e cansado,
vou desfazendo propriedades
desprendendo do tão caro
- desfaço o laço no sonho antigo
e despeço o todo a partir de um pedaço:
no adeus
Mata em chama e calada
rios, flores e passaros.
ha luzes do entre galhos
um alburno
estraçalhado.
Cheia de vida
orgone de outras terras
partida em frangalhos.
casinha de terra e poesia
que pena
que saudade de mim
quinta-feira, 2 de abril de 2009
realidade
já atravessamos os portais do eterno
na fina névoa que desfaz a tarde
ultrapassamos o solar da mata
e a agua fria do riacho abaixo.
são nossos sonhos, respirando os montes
são nossos medos aceitando a noite.
desfez do eterno o efémero presente
a mancha branca nesse céu de estrelas.
não há certeza onde jaz o corpo
a alma morre a vida de quem vive
responde só o agora por seus danos
o novo clama o fim de cada plano
responde então amor por mais um dia
se perca então amor no que deixamos
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Neruda
"Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. Nos se hacia donde voy.
... Desde tu corazon me dice adios un nino
Y yo le digo adios"
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
ao panico
e foram esquecidas as margens do desamparo
como as folhas de um outono
como os passos de uma noite embriagada
e deixou flores esse vácuo inconsistente
no lugar onde viviam os amantes
ou foram ouvidos risos
ou onde chovia imperceptível um tempo finito
em outras palavras, a tua ausência
voltaram então, como demónios
as elegias de um deserto embranquecido
e as leves interrupções desesperadas
do fim da fala
onde só se acumula o inanimado
como objectos de uma outra casa
voltaram e vingaram no silencio
a raiva e uma solidão
como quem lamenta o já partido
como quem não poderia
e não há nada
onde e' recusa
e não há saída
como as folhas de um outono
como os passos de uma noite embriagada
e deixou flores esse vácuo inconsistente
no lugar onde viviam os amantes
ou foram ouvidos risos
ou onde chovia imperceptível um tempo finito
em outras palavras, a tua ausência
voltaram então, como demónios
as elegias de um deserto embranquecido
e as leves interrupções desesperadas
do fim da fala
onde só se acumula o inanimado
como objectos de uma outra casa
voltaram e vingaram no silencio
a raiva e uma solidão
como quem lamenta o já partido
como quem não poderia
e não há nada
onde e' recusa
e não há saída
domingo, 23 de novembro de 2008
avisa
"clareia minha vida amor
no olhar..."
vai o medo em mim
ao fim de mim
e eu que calo essa verdade
e esqueço
as coisas desta morte
vou ao lado dela
que a cada instante
e' eternidade
- eternidade
e me perco também
e não existo
se não essa brisa
se não uma perda
tão constante
e desaprendi a poesia
e desaprendi o sofrimento
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
delicadeza
essa flor pede um vaso
constante no laço
ardente do amor
essa flor pede a palma
da carne ao aço
vermelho do traço
do sangue da dor
essa flor pede a calma
tao plena de alma
o silencio ao rancor
e esse amor pede ao dia
que a noite adormeça
de dia em torpor
e esse abrir pede o toque
que guia a beleza
na busca da flor
terça-feira, 11 de novembro de 2008
drummond
"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."
sábado, 8 de novembro de 2008
5 21 ou fonte
meu fogo sagrado
mulher que do lado
encerra o passado
no instante encontrado
no rosto tocado
num mundo esperado
um sonho, o recado
da vida ou de Deus.
mulher
que ressoa
a chama da noite,
mulher que acolhe
o espírito vivo,
da fome, o anseio
da busca, o temer.
sou eu que dos braços
me lanço da ponte
do rio de um adeus.
sou eu
que descalço
caminho cansado
a procura de ti.
me perco, meu fogo, e perdi.
sou teu,
como um homem,
é filho da luz.
e não, quero mais
a solidão.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
hoje
"Abandonado como los muelles en el alba.
Solo la sombra tremula se retuerce en mis manos.
Ah mas alla de todo. Ah mas alla de todo.
Es la hora de partir oh abandonado!"
Pablo Neruda
eu vi a beleza, meus olhos
reconhecem o fim do dia
em disparada, essa criança
no meio fio e a chuva
e mais que isso,
eu examino tua escolha de camisas
e o gesto rápido
e um medo na boca
e o pensamento em brilho
e cortou o cabelo
e roeu uma unha
e esquivou de um beijo
e me pediu
as árvores daquela casa
de lembranças
a vida naquela casa
de lembranças
o fim do medo, meu amor
e do futuro
Solo la sombra tremula se retuerce en mis manos.
Ah mas alla de todo. Ah mas alla de todo.
Es la hora de partir oh abandonado!"
Pablo Neruda
eu vi a beleza, meus olhos
reconhecem o fim do dia
em disparada, essa criança
no meio fio e a chuva
e mais que isso,
eu examino tua escolha de camisas
e o gesto rápido
e um medo na boca
e o pensamento em brilho
e cortou o cabelo
e roeu uma unha
e esquivou de um beijo
e me pediu
as árvores daquela casa
de lembranças
a vida naquela casa
de lembranças
o fim do medo, meu amor
e do futuro
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
now you can dance
I had never been happy
so I went beyond the cold of night
beyond my loneliness
to a place where I could not be found
Life saw me floating in mid air
the bones that asked for god
and nurtured me back to a stream
It is enough, she said
I will give you everything
you have your heart
you have your soul
your open eyes
you start now
So I did not ask for love
I prayed.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
medo
o adeus amor amarelo
amor sem causa ou fim
ao deus o amor amarelo
do fim do amor em mim
ao meu amor o amarelo
da dor do amor enfim
o meu pavor e o amarelo
o nao a vida ao sim.
mas eu amor amarelo
um medo um dia assim
a vida amor, em amarelo
mil dias amar por fim
e amar, o amor amarelo
ao fim do medo em mim.
domingo, 19 de outubro de 2008
abrir
So open, my heart
do not be afraid
this woman of beauty
is coming to stay.
and open, my soul
do not run away
the stars are not falling
the night will not fade.
and open, my mouth
to breath in her taste
and cry if you need
this love not to break.
and open, o mind
to a spirit behind,
her eyes at the sky,
with secrets inside.
and go off my dreams
and take me with you,
and let this be true
let this be true.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Yashanti 2
sem dormir, não estou só
não posso invadir a solidão
e clamar meu abandono
ei-la enfim como a madrugada
ei-la como o fim da noite
eis uma promessa
ei-la uma esperança
(in body, embodied by that which embodies everything)
mas e se foi assim desde que a vi
e guardei dela
algo que é meu?
e se distantes entre amores
ou amantes e perdidos
num encontro?
Algo sabe mais
e leva ao caminho
que se abre?
estávamos juntos,
caminhamos juntos?
a noite é sem fim e a madrugada é espera.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
these are the words
these are the words that are prior to
myself
these are the founding words
the ones I cannot escape
the words that make their point
holiness, attachment, peace
loving, dying and forgiving
these are the worls that fill me
the streaming words
the underline,
longing and contact
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
the hours
Here where time is limitless
I hear the sound of nature screaming
and hours are not hours
like music or my own sound
Here where winds are rare
and Life is restless, I run
these fields in search
of something
I stay but I could go
I pause and pay attention:
is there something inside
which is me?
For here is the landscape
of muteness, of nothing
but all alive and vital
for life and Life again
returning
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
driving my car
so I could tell you about your body
since it was full moon out
and how it urges for the passions it has
and in passion lies very quietly,
or say about your hair,
a nest of dreams,
or eyes
that look in want of
everything.
or say of how, at one point
you sitting there, so very lovely
in an old matress in my room
was an like an angel in a temple
- blessing a blanket moon
or say wait
or say I am here
to watch unfold
this precious sparkling in your soul.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
necessary writing
so it was necessary writing
things like what now where to from yesterday
certain events you know like time itself as necessary to say... if,
as the splendour touching inescapably was there something consummated to the plan of things and things themselves, existing.
so it was day as day itself came over night after night and night again but that night.
domingo, 14 de setembro de 2008
leaving
he was preparing to leave: looking for a book he would take none. looking for music he chose the inner one. searching for his image he broke the mirror for he would not recognize himself. he would say good bye, and he would return, emptied.
but every day, a year with Rumi, he searched for strengh and guidance. it read, under September 14, "Sublime Generosity"...
sábado, 13 de setembro de 2008
Rumi
"My soul keeps whispering, Quickly,
be a wandering dervish,
a salamander sitting in its homefire.
Walk about watching the burning
turn to roses. As this love-secret
we are both blasphemy and the core of Islam.
Do not wait. The open plain is better
than any closing door. Ravens love ruins
and cemetery trees. They cannot help but fly there.
But for us this day is friends sitting together
with silence shining in our faces."
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
silence shining in our faces
desde sempre ele não caminhava sozinho. corria a seu lado uma claridade, uma leveza de espírito ou um sonho que era antes de tudo a presença de uma mulher. e essa presença, nunca materializada, não fosse como esperança, estava sempre la'. ela lhe era prevista, lhe era dada.
já ela tinha no horizonte o chamado de muitos deuses, e eles vinham do amor e do vento, e perderiam-se nela não fosse a espera, a guarda nos olhos de um homem especifico.
e foi então que uma noite eles se encontraram, e o que só assistia ao milagre passou a se-lo, abrindo os esperados caminhos.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
domingo, 7 de setembro de 2008
eu te amo
Hoje eu sei que estou sozinho e eu escrevo para você. Eu te amo para não te perder, para não te ver partir. E você vai embora, e eu continuo te amando, para não te perder, para não te ver partir.
Eu adormeci mas acordei sangrando. Que pecado eu cometi, onde começaram as traições - a ironia, o reverso da poesia, o cinismo? Muito antes. E hoje eu conheço amar por amar você. E você parte, e essa união dentro de mim, me leva e me deixa. Que peso e' esse, que distancia e' essa? E se não conheço o teu corpo o que eu conheço? E se ele muda sem mim, sem os meus olhos, onde estou? Que casa e' essa então, que não recebe, que faz de mim uma casa que não mais se habita? Estou cheio de vergonha desse amor, desse amor que luta através de mim, que ri das minhas chagas e do meu orgulho: ainda não, ele diz, e nunca.
Hoje eu não tenho um caminho, e essas poesias são gritos. Onde eu vou não te encontro. Estou sem paz sem você. Essa fraqueza sem fraquezas, essa insistência no futuro, esse morrer... Eu te amo sem te perder, bailarina, sem te deixar, mas sem mim. Eu caminho por Buenos Aires, pelas ruas mais tristes do Rio, por uma imensa saudade.
E entre esses soluços eu me pergunto do que você precisa, se eu podia te dar alguma coisa, cuidar de você ate algum fim. E' assim esse amor dentro de mim, bailarina, esse perdão. Ele te chama. Ele precisa de você. Ele não conhece defesa.
Meu amor, minha bailarina, minha tristeza, minha poesia. Meus. O movimento dessa graça, desse eterno, sem Deus, desse milagre. Eu te amo, muito, e sempre. Eu te espero, todo dia.
Hoje eu estou sozinho, com você. Eu quase não aguento.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
end of the road
It is not another
face, another
anyone, an other
anymore.
And
you
know
it is
your soul,
your silence,
this bare self.
Be
gone
then
respond
to
open
up.
Your time
your body,
blood and
longing
to
give
them
up
and you
consumed
along with
every
thing,
it is
not
an other
face
another anyone
an other
anymore...............................................................................................................................................................it is you
O Guru
Larguei bar por Bach, e encontrei Rumi. Ah o que eu faria sem você Mowlana, o que seria dessa alma incandescente? Jalal al Din, de Roma, salvando vidas. E essas pegadas que levaram ate' o seu coração, e essas sombras na noite? Uma brisa constante, meu amigo. O místico, o yogue, o gnóstico, e a mesma União. Meu poeta da alma.
Rumi
A necessary autumn inside each
we have to go, words
are no preparation. There is no getting ready, other than
grace. My faults
have stayed hidden. One might call that a preparation!
I have one small drop
of knowing in my soul. Let it dissolve in your ocean.
There are so many threats to it.
Inside each of us, there's continual autumn. Our leaves
fall and are blown out
over the water..."
Rumi
"Longing is the core of mystery.
Longing itself brings the cure.
The only rule is, Suffer the pain.
Your desire must be disciplined,
and what you want to happen
in time, sacrificed"
domingo, 24 de agosto de 2008
olhos cor do mar
"Olhos encantados, olhos cor do mar
Olhos pensativos que fazeis sonhar!"
Vicente de Carvalho
And tonight I saw something.
I cannot explain the effect these things have on me, how they are myself. New York, on the waterfront, Bernstein, her at sleep for ever recurring. I used to watch her, you know, at night - that one bedroom apartment in the village, when I was twenty one, it had a window to the moon. Sometimes she talked to herself. She made comments on tiny events. What is this pot doing in the bathroom? So let me see.
There was something going on those days, something important. I never had a future again. I walked a lot, we met at night. I was mostly by myself during the day. What a beautiful island, that place.
And tonight I told this unknown girl the poem about the eyes with the color of the sea, the eyes that make you dream... And I tell you, she really looked at me and smiled.
What day is today?
I am going back, you know. I am always going back.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Kafka
"From a certain point onward there is no longer any turning back. That is the point that must be reached"
Eduardo Mallea
"Each man's destiny is personal only insofar as it may happen to resemble what is already in his memory"
é impossivel dizer a deus, ou memória
quem é você que me faz tanta falta, e cuja saudade eu me lembro desde que me lembro - desde que há lembrança? você que surgiu num fim de tarde, como uma estrela do poente, e me deixou de madrugada sem teu brilho. Quem é você que foi mãe e foi terra, alma e poesia, noite e sonho? Você que retorna, ou é retorno, para dizer adeus - um adeus impossível.
sem nome, sem olvido, ao morrer não está morta. você que no amar revive, e parte, sem despedida, sem separação.
que união ensinas, em pedaços, cada parte nossa, eu que não mais existo? E me chamas docemente e me tocas.
não é possível dizer
sem nome, sem olvido, ao morrer não está morta. você que no amar revive, e parte, sem despedida, sem separação.
que união ensinas, em pedaços, cada parte nossa, eu que não mais existo? E me chamas docemente e me tocas.
não é possível dizer
terça-feira, 19 de agosto de 2008
e entao foi possivel dizer adeus ou esquecimento
e ela disse e' preciso dizer adeus.
então ela disse:
adeus reflexo de mim mesma!
(e foi o fim do ultimo episódio de Sex and the City)
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Rumi
"What was in the candle's light
that opened and consumed me so quickly?
Come back, my friend! The form of our love
is not a created form.
Nothing can help me but that beauty.
There was a dawn I remember
when my soul heard something
from your soul. I drank water
from your spring and felt
the current take me."
that opened and consumed me so quickly?
Come back, my friend! The form of our love
is not a created form.
Nothing can help me but that beauty.
There was a dawn I remember
when my soul heard something
from your soul. I drank water
from your spring and felt
the current take me."
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
delirio
alemãao! Onde nois vai?!!! anywhere, any fucking where
era dificel saber com quem falava. quanto mais comovido, mais difuso o interlocutor. tudo dependia daquele que fazia eco, do outro especifico, de um rosto. não falava as mesmas coisas para diferentes pessoas, não era o mesmo. o outro o chamava particularmente, o outro o evocava. as vezes podia perguntar se falava por si mesmo afinal, ou se alguém tecia seu pensamento e seus sonhos.
de algum lugar onde o tempo e' certamente uma ilusão, ela respondia. e falavam através dele, por ela, muitos de si. outros falavam também, ela falava. nunca abriu mão da embriaguez mas precisou aprender a receber o sublime. como "the grief you cry out from, draws you toward union". como a sua primeira união.
as coisas iam ficando sofisticadas mas ele não acompanhava. Sabe quem você e' para mim? sabe quem você e' em mim? era preciso sucumbir ao menos uma vez. "This longing you express is the return message". era uma delicadeza arriscada.
desceu a Columbus Avenue sem ter dormido. ou dormiu e sonhou, e esqueceu. glenn gould, no I Pod, gemendo abafado a melodia. mas tinha morrido e era ela que seguia em frente. ia busca-lo em algum lugar, salva-lo, ver de si, sozinha, sua morada. ate a setenta em dois quando virou a esquerda e viu o Dakota. Zeus nas grades, e nineteen west sixtynineth street. Atravessou para o parque, e um homem, sentado num daqueles bancos:
"eu tenho a estranha sensação de estar morrendo; eu me despeço das coisas todos os dias"
alemão, onde nois vai?
(Sofi, essa e' sua resposta. beijos distantes)
o outro
Na verdade eles se encontraram porque estavam completamente perdidos. E nada poderiam oferecer um ao outro senão estarem perdidos. E sem se acharem, viam no outro o que lhes faltava. E o que lhes faltava era de um e do outro, e de cada um, sem que nem mesmo soubessem. E de madrugada ele escreveu:
It is not another
face, another
anyone, an other
anymore.
Um rosto e um outro, rosto atrás de outro, rosto.
E ela não podia decidir qualquer coisa por que não havia nada para decidir. Havia um outro, e havia ela, sem ela, e ele sem ele. E era tarde e ninguém dormiu. E não era uma noite fria. E não era uma noite silenciosa. Mas era tarde para os dois. Já tinha começado.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
domingo, 10 de agosto de 2008
feliz dia dos pais
La Casserole. O almirante, condecorado capitão de mar e guerra no Paraguai, passava temporadas na cadeia militar por desacato aos superiores. O filho, depois da Engenharia no King's College, foi ser medico e conheceu uma jovem desquitada em Paris que abandonou a Belle Epoque por Belém do Para. Em Santos criaram três filhos. Um deles admirava muito o pai, cujo um dos filhos admirava muito o pai também. O primeiro Eduardo andava com uma Divina Comédia de bolso, o segundo com sobras de integridade. "Eu sempre gostei de Cyrano de Bergerac, mas ele e' um herói fraco". "Fraco ou sensível?".
Marechal Ney foi fuzilado por traição. Abriu mão da venda nos olhos, deu a ordem para os tiros e disse ao pelotão: "não esqueçam que por trinta anos eu encarei essas balas de frente". Ele foi incumbido de trazer Napoleão numa jaula, mas diante do velho comandante, desistiu e se juntou a ele. O que poderia fazer?
Uma francesa expatriada, linda e temperamental, um poeta espadachim, e o amor por Napoleão. Traiu a pátria mas não o pai.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Waterloo
As vezes era impossivel tratar com seu pai como se ele estivesse vivo. Certamente seu pai, sentado diante dele, tomando um dry martini, mexendo o queixo, suspirando, esse homem de setenta e dois anos -esse homem frágil- não estava no tempo presente. Seu pai fazia vozes com bonequinhos na mão; seu pai sentava no quarto do hospital depois da cirurgia; seu pai o levava ao campeonato de futebol do Paulistano; seu pai estava morto e falavam dele; seu pai brincava com o seu filho, aquele que não nasceu. Seu pai dava risada no sétimo tempo. Mas aquele homem mastigando um amendoim, criticando suas roupas, fazendo perguntas: onde estava? Onde estavam?
Quando deixaria de ser filho de seu pai - quando deixaria de ser filho? Seu pai, seu avô, seu irmão, seu outro irmão, vivos e mortos. Um dia bebeu demais e apareceu na casa do irmão as seis da manhã. Chorou por quarenta minutos e foi embora. Ainda podia ver seu tio fumando um cigarro na noite de natal, com um foulard de ceda no pescoço. Lá estavam os seus primos. O maconheiro, o suicida, o homossexual, o ladrão, o pai de três filhos.
"Você pode imaginar o que foi a batalha de Waterloo para a França"? Sinceramente, não.
Quando deixaria de ser filho de seu pai - quando deixaria de ser filho? Seu pai, seu avô, seu irmão, seu outro irmão, vivos e mortos. Um dia bebeu demais e apareceu na casa do irmão as seis da manhã. Chorou por quarenta minutos e foi embora. Ainda podia ver seu tio fumando um cigarro na noite de natal, com um foulard de ceda no pescoço. Lá estavam os seus primos. O maconheiro, o suicida, o homossexual, o ladrão, o pai de três filhos.
"Você pode imaginar o que foi a batalha de Waterloo para a França"? Sinceramente, não.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Before
"The name of the woman whom my heart loved is Life"
Kahlil Gibran
it has stars on it;
Expelled clouds from clear blue skies
no sound, no remorse.
Let me kneel before this event
if I may, I will not lie:
direct light from darker eyes
older loneliness, sand from distant days.
Let me invite you into this
open space, this slow and ample silence.
Before it is night as we do not touch.
So let me
and do not go
over
too
soon.
And you know
this image
of you.
So let me tell you
it is always so strange.
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Yashanti
(ao som de Yael Naim)
To die solemnly, and disapear
at these strange hours
when I am nothing
The void at the end of a day
after full redemption
colors and motion
and your curious sensing me
that afternoon like any other
when I could hardly move
to start a new life.
Another escape, another rescue
this white boulevard
this tension of everything there was to know
and impossibilities.
Oh, the end of day
the openness of our fates
barely touching
barely recognizing their splendour.
Lovely hair, eyes, smile - your skin
and goodbye.
To die solemnly, and disapear
at these strange hours
when I am nothing
The void at the end of a day
after full redemption
colors and motion
and your curious sensing me
that afternoon like any other
when I could hardly move
to start a new life.
Another escape, another rescue
this white boulevard
this tension of everything there was to know
and impossibilities.
Oh, the end of day
the openness of our fates
barely touching
barely recognizing their splendour.
Lovely hair, eyes, smile - your skin
and goodbye.
terça-feira, 29 de julho de 2008
Shiva
Oh my anger, carer of these wounds
healing force, of separation:
Lastly, you and me
God of Truth
Shiva to lost dreams,
to die through me, finally
And Fury, endless tear
of my broken images
ressurecting
But I am deeply sorry:
this heart on blight, as having
fire and silence
slowly across life
into darkness again
And Anger, hot and pulsing
beyond returning,
against indifference
against obstacles
against Time or fear
To images slowly fading
to rage against, to light again
this heart on blight
alone returning
on bond's eternal blindness
healing force, of separation:
Lastly, you and me
God of Truth
Shiva to lost dreams,
to die through me, finally
And Fury, endless tear
of my broken images
ressurecting
But I am deeply sorry:
this heart on blight, as having
fire and silence
slowly across life
into darkness again
And Anger, hot and pulsing
beyond returning,
against indifference
against obstacles
against Time or fear
To images slowly fading
to rage against, to light again
this heart on blight
alone returning
on bond's eternal blindness
sábado, 24 de maio de 2008
poema inacabado
este coração como uma união
que não se desfaz
partindo sem poder partir
sangrando sem poder sanar
ungindo a dois, em dois
o adeus, o amor para estancar o amar
partir a fonte, em meio a noite
parando para então deixar
este coração como uma união
que em si desfaz
partir para poder partir
sangrar para então sagrar
o adeus amor
em dois à deus
a noite a estancar o amar
fugir a fonte, em meio a morte
uma união que de si desfaz.
que não se desfaz
partindo sem poder partir
sangrando sem poder sanar
ungindo a dois, em dois
o adeus, o amor para estancar o amar
partir a fonte, em meio a noite
parando para então deixar
este coração como uma união
que em si desfaz
partir para poder partir
sangrar para então sagrar
o adeus amor
em dois à deus
a noite a estancar o amar
fugir a fonte, em meio a morte
uma união que de si desfaz.
terça-feira, 6 de maio de 2008
D. H. Lawrence
"Go deeper than love, for the soul has greater depths,
love is like the grass, but the heart is deep wild rock
molten, yet dense and permanent.
Go down to your deep old heart, woman, and lose sight
of yourself.
And lose sight of me, the me whom you turbulently loved.
Let us lose sight of ourselves, and break the mirrors.
For the fierce curve of our lives is moving again to the depths
out of sight, in the deep dark living heart.
But say, in the dark wild metal of your heart
is there a gem, which came into being between us?
is there a sapphire of mutual trust, a blue spark?
is there a ruby of fused being, mine and yours, an inward
glint?
If there is not, o then leave me, go away.
For I cannot be bullied back into the appearences of love,
any more than August can be bullied to look like March.
Love out of season, especially at the end of the season
is merely ridiculous.
If you insist on it, I insist on departure.
Haave you no deep old heart of wild womanhood
self-forgetful, and gemmed with experience,
and swinging in a strange unison of power
with the heart of the man you are supposed to have loved?
If you have not, go away.
If you can only sit with a mirror in your hand, an ageing
woman
posing on and on as a lover,
in love with a self that now is shalow and withered,
your own self - that has passed like a last summer's
flower-
then go away-
I do not want a woman whom age cannot wither.
She is a made up lie, a dyed immortelle
of infinite staleness"
love is like the grass, but the heart is deep wild rock
molten, yet dense and permanent.
Go down to your deep old heart, woman, and lose sight
of yourself.
And lose sight of me, the me whom you turbulently loved.
Let us lose sight of ourselves, and break the mirrors.
For the fierce curve of our lives is moving again to the depths
out of sight, in the deep dark living heart.
But say, in the dark wild metal of your heart
is there a gem, which came into being between us?
is there a sapphire of mutual trust, a blue spark?
is there a ruby of fused being, mine and yours, an inward
glint?
If there is not, o then leave me, go away.
For I cannot be bullied back into the appearences of love,
any more than August can be bullied to look like March.
Love out of season, especially at the end of the season
is merely ridiculous.
If you insist on it, I insist on departure.
Haave you no deep old heart of wild womanhood
self-forgetful, and gemmed with experience,
and swinging in a strange unison of power
with the heart of the man you are supposed to have loved?
If you have not, go away.
If you can only sit with a mirror in your hand, an ageing
woman
posing on and on as a lover,
in love with a self that now is shalow and withered,
your own self - that has passed like a last summer's
flower-
then go away-
I do not want a woman whom age cannot wither.
She is a made up lie, a dyed immortelle
of infinite staleness"
Salinger
O apanhador no campo de centeio e o trabalho do terapeuta
"Anyway, I keep picturing all these little kids playing some game in this big field of rye and all. Thousands of little kids, and nobody's around - nobody big, I mean - except me. And I'm standing on the edge of some crazy cliff. What I have to do, I have to catch everybody if they start to go over the cliff - I mean if they're running and they don't look where they're going I have to come out from somewhere and catch them. That's all I do all day. I'd just be the catcher in the rye and all. I know it's crazy, but that's the only thing I'd really like to be."
The Catcher in the Rye, Chapter 22, spoken by the character Holden Caulfield
"Anyway, I keep picturing all these little kids playing some game in this big field of rye and all. Thousands of little kids, and nobody's around - nobody big, I mean - except me. And I'm standing on the edge of some crazy cliff. What I have to do, I have to catch everybody if they start to go over the cliff - I mean if they're running and they don't look where they're going I have to come out from somewhere and catch them. That's all I do all day. I'd just be the catcher in the rye and all. I know it's crazy, but that's the only thing I'd really like to be."
The Catcher in the Rye, Chapter 22, spoken by the character Holden Caulfield
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Rumi
"This sense is closed to all except the senseless, and words are all the ear can ever purchase.
In all our grief the days turned into nights, the days fell into step with searing pains.
If days are gone, say "Go! There is no fear, and stay, O You who are uniquely holy."
His flood deluges all except the fish; the day is long for him who has no bread.
The raw can't grasp the state of one who's cooked, so this discussion must be brief - farewell!
Be free, my son, and break your chains asunder!"
In all our grief the days turned into nights, the days fell into step with searing pains.
If days are gone, say "Go! There is no fear, and stay, O You who are uniquely holy."
His flood deluges all except the fish; the day is long for him who has no bread.
The raw can't grasp the state of one who's cooked, so this discussion must be brief - farewell!
Be free, my son, and break your chains asunder!"
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Rumi
"The way of love is not
a subtle argument.
The door there
is devastation.
Birds make great sky-circles
of their freedom.
How do they learn it?
They fall, and falling,
they're given wings"
a subtle argument.
The door there
is devastation.
Birds make great sky-circles
of their freedom.
How do they learn it?
They fall, and falling,
they're given wings"
quinta-feira, 6 de março de 2008
w.w.
"O me! O life!... of the questions of these recurring;
Of the endless trains of the faithless--of cities fill'd with the foolish;
Of myself forever reproaching myself, (for who more foolish than I, and who more faithless?)
Of eyes that vainly crave the light--of the objects mean--of the struggle ever renew'd;
Of the poor results of all--of the plodding and sordid crowds I see around me;
Of the empty and useless years of the rest--with the rest me intertwined;
The question, O me! so sad, recurring--What good amid these, O me, O life?
Answer.
That you are here--that life exists, and identity;
That the powerful play goes on, and you will contribute a verse."
Of the endless trains of the faithless--of cities fill'd with the foolish;
Of myself forever reproaching myself, (for who more foolish than I, and who more faithless?)
Of eyes that vainly crave the light--of the objects mean--of the struggle ever renew'd;
Of the poor results of all--of the plodding and sordid crowds I see around me;
Of the empty and useless years of the rest--with the rest me intertwined;
The question, O me! so sad, recurring--What good amid these, O me, O life?
Answer.
That you are here--that life exists, and identity;
That the powerful play goes on, and you will contribute a verse."
segunda-feira, 3 de março de 2008
energy for Reich
1. It is mass free
2. It is omnipresent. Orgone energy fills all space in differing degrees of concentrations.
3. It is the medium for electromagnetic and gravitational phenomena.
4. It is in constant motion.
5. It “contradicts” the law of entropy. It is attracted to itself.
6. It forms units that are the foci of creative activity such as bions, clouds and galaxies.
7. Matter arises from mass-free orgone energy.
8. It is responsible for the phenomena of life and spontaneous generation of living organisms out of non-living matter.
9. Superimposition Function: separate streams of orgone energy may be attracted to each other and converge in a spiral form. This convergence of energy may be viewed in cyclonic storms and is the principle expression of mating in living nature.
10.It can be manipulated and controlled by orgone energy devices.
2. It is omnipresent. Orgone energy fills all space in differing degrees of concentrations.
3. It is the medium for electromagnetic and gravitational phenomena.
4. It is in constant motion.
5. It “contradicts” the law of entropy. It is attracted to itself.
6. It forms units that are the foci of creative activity such as bions, clouds and galaxies.
7. Matter arises from mass-free orgone energy.
8. It is responsible for the phenomena of life and spontaneous generation of living organisms out of non-living matter.
9. Superimposition Function: separate streams of orgone energy may be attracted to each other and converge in a spiral form. This convergence of energy may be viewed in cyclonic storms and is the principle expression of mating in living nature.
10.It can be manipulated and controlled by orgone energy devices.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Rumi
"This is love: to fly toward a secret sky,
to cause a hundred veils to fall each moment.
First, to let go of life.
In the end, to take a step without feet;
to regard this world as invisible,
and to disregard what appears to be the self.
Heart, I said, what a gift it has been
to enter this circle of lovers,
to see beyond seeing itself,
to reach and feel within the breast."
to cause a hundred veils to fall each moment.
First, to let go of life.
In the end, to take a step without feet;
to regard this world as invisible,
and to disregard what appears to be the self.
Heart, I said, what a gift it has been
to enter this circle of lovers,
to see beyond seeing itself,
to reach and feel within the breast."
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
sábado, 16 de fevereiro de 2008
kanji
“Um jeito de amar foi embora com ela”. Foi o que lhe disse o amigo no terceiro chopp do domingo. E ele, olhando o gol do Fluminense através da TV, não via nada.“O Paulo, por exemplo, quase ficou louco e no final tatuou o nome da namorada em japonês. Isso depois dela ter se casado com outro”. E ele pensou na estatueta que comprara um dia antes, um casal em bronze fundido num abraço. “Rasgou o nome da mulher na perna para esquece-la para sempre."
E aquela frase merecia um conto. Um jeito de amar foi embora com ela. E em cima da elegante cristaleira depositou a materialização do mais antigo devaneio, a projeção de sua ultima ilusão, o mysterium coniunction pela mais persistente de suas fraquezas. "Mas o Paulo não estava namorando de novo"? "Só se for uma por semana". “E porque em japonês?”
“El destino siempre nos conduce a lo que teníamos de ser”. “Jung?” “Não, Sabato”. “Quem é esse?”. “Abri o livro e li: vuelvo a deslumbrar los umbrales del Absoluto”. “Seu espanhol é uma merda". "Toma mais um chopp".
E aquela frase merecia um conto. Um jeito de amar foi embora com ela. E em cima da elegante cristaleira depositou a materialização do mais antigo devaneio, a projeção de sua ultima ilusão, o mysterium coniunction pela mais persistente de suas fraquezas. "Mas o Paulo não estava namorando de novo"? "Só se for uma por semana". “E porque em japonês?”
“El destino siempre nos conduce a lo que teníamos de ser”. “Jung?” “Não, Sabato”. “Quem é esse?”. “Abri o livro e li: vuelvo a deslumbrar los umbrales del Absoluto”. “Seu espanhol é uma merda". "Toma mais um chopp".
domingo, 10 de fevereiro de 2008
transcendência
Era como uma miragem o jovem sentado no banco de esquina da rua Oscar Freire. De seu instrumento saiam, como os íons da Beleza, as suítes para violoncelo de Johann Sebastian Bach. E ao lado do artista, absorto pelo instante, ele pode admirar com os olhos o saber mais profundo daquela música: os castelos inacabados da alma, a vertigem incessante dos abismos, a generosidade de Deus. Ou algo assim. E mesmo que seu Rayban fosse roubado outras dez vezes num estacionamento de Valet, e que ele tivesse mais cem discussões com o gerente do estabelecimento, e que ainda oitenta prestações, em vez de duas, tivessem que ser pagas pelo maldito par de lentes, seu dia, aquele dia, estava garantido. Bach com sua inigualável capacidade de pôr as coisas no lugar. Quem poderia amaldiçoar uma inevitável quadrilha de manobristas depois da ultima Saraband?
Era do Acre o artista quando jovem, acumulando as esparsas moedas da sobrevivência para a republica onde morava. Sua camiseta denunciava que só não faltava o pão. Praticava na rua, e ninguém parou nos vintes minutos em que ele se sentou junto a esse querubim, porta voz do sagrado, um mulato de sorriso fácil e olhos acesos. Conversaram entre o Mercedes Benz e a vendedora que fumava na calçada.
Quando leu os poemas de D. H. Lawrence pela primeira vez sentiu um formigamento nas mãos. Quando descobriu Rumi, entendeu Reich e o abandonou para sempre. Quando foi de Beethoven para Bach, aceitou a morte como o andróide de Blade Runner: “all those moments will be lost in time like tears in rain”.
Caminhou até a loja da Adidas e trocou o par de chuteiras e a bola por um agasalho felpudo. Depois de duas operações no joelho, só jogaria futebol dormindo. Uma vez por semana corria pelas quadras da quimera. Seus amigos de infância e a seleção de oitenta e dois eram aclamados pela torcida do Corinthians.
Insultos e limites, e as suítes de Bach. “I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I've watched C beams glitter in the dark near the Tannhauser gate…”
Era do Acre o artista quando jovem, acumulando as esparsas moedas da sobrevivência para a republica onde morava. Sua camiseta denunciava que só não faltava o pão. Praticava na rua, e ninguém parou nos vintes minutos em que ele se sentou junto a esse querubim, porta voz do sagrado, um mulato de sorriso fácil e olhos acesos. Conversaram entre o Mercedes Benz e a vendedora que fumava na calçada.
Quando leu os poemas de D. H. Lawrence pela primeira vez sentiu um formigamento nas mãos. Quando descobriu Rumi, entendeu Reich e o abandonou para sempre. Quando foi de Beethoven para Bach, aceitou a morte como o andróide de Blade Runner: “all those moments will be lost in time like tears in rain”.
Caminhou até a loja da Adidas e trocou o par de chuteiras e a bola por um agasalho felpudo. Depois de duas operações no joelho, só jogaria futebol dormindo. Uma vez por semana corria pelas quadras da quimera. Seus amigos de infância e a seleção de oitenta e dois eram aclamados pela torcida do Corinthians.
Insultos e limites, e as suítes de Bach. “I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I've watched C beams glitter in the dark near the Tannhauser gate…”
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
cinzas
Sua viagem tinha durado dois dias. Ele não precisou resistir. A pequena cidade tinha sido invadida por visigodos, e sobrevivia vendendo mantimentos inflacionados. Mulheres eram o artigo de luxo e podiam ser disputadas por agarrões, perseguições implacáveis, beijos-surpresa, e até tropeções. Descamisados, os foliões exibiam suas correntes de prata, e as tatuagens borrão cintilavam ao mormaço interiorano. Foi confundido duas vezes por um turista estrangeiro. O melhor item gastronômico era um churros de doce de leite, que dourando ao sol, tinha uma tendência ao brilho e um tônus peculiar. Depois de duas noites, abandonou o barco. O naufrágio era certo. Como dizia a marchinha: “São almas penadas dançando no além”.
Na casa, a melhor companhia e a melhor trilha sonora da região eram enriquecidas por vodcas ao flash power, haxixe, cannabis ativa e um LSD anfetamínico de efeito surpreendente. Apoderou-se de um pandeiro dos tempos de PUC e quase furou a lamina sonora algumas vezes. Foi testemunha da loucura alheia. Sua vigília era uma autentica manifestação da impossibilidade de dormir sem algum tipo de exaustão. Não era alheio a tudo aquilo, mas não conjugava. Nos olhos dos melhores amigos as flamas da incerteza eram suficientes.
De volta a São Paulo foi atropelado por um bloco de maracatu. O primeiro estacionamento selou o destino do carro e ele seguiu sem descobrir o rumo. Mais tarde informações desencontradas deram três endereços finais para a turba. Ninguém sabia para onde estava indo. Viu duas vezes o filme dos irmãos Coen. Veria o rosto de Tommy Lee Jones outras trinta.
Foi redimido pelo Ó do Borogodó. Há dois anos essa espelunca cheia de alma tinha entrado no roteiro de sua vida. Desta vez, com seus amigos, exorcizou até a gripe que o elegera na noite fria de São Luis. O Ó.
Na casa, a melhor companhia e a melhor trilha sonora da região eram enriquecidas por vodcas ao flash power, haxixe, cannabis ativa e um LSD anfetamínico de efeito surpreendente. Apoderou-se de um pandeiro dos tempos de PUC e quase furou a lamina sonora algumas vezes. Foi testemunha da loucura alheia. Sua vigília era uma autentica manifestação da impossibilidade de dormir sem algum tipo de exaustão. Não era alheio a tudo aquilo, mas não conjugava. Nos olhos dos melhores amigos as flamas da incerteza eram suficientes.
De volta a São Paulo foi atropelado por um bloco de maracatu. O primeiro estacionamento selou o destino do carro e ele seguiu sem descobrir o rumo. Mais tarde informações desencontradas deram três endereços finais para a turba. Ninguém sabia para onde estava indo. Viu duas vezes o filme dos irmãos Coen. Veria o rosto de Tommy Lee Jones outras trinta.
Foi redimido pelo Ó do Borogodó. Há dois anos essa espelunca cheia de alma tinha entrado no roteiro de sua vida. Desta vez, com seus amigos, exorcizou até a gripe que o elegera na noite fria de São Luis. O Ó.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Desde que o samba é samba é assim
O bloco pré-carnaval era entre o bar e o cemitério. A rua de paralelepípedo estava cheia de gente e um homem barbado de cento e vinte quilos ostentava um vestido de sereia. Meninas bonitinhas sambavam com homens suados e os músicos sorridentes eram espremidos contra o trio elétrico. A cada momento o grupo de seus amigos pendia para umas das calçadas. Hora a corrente de gente os levava para o bar, hora para o grande muro que cercava a rua inteira. Pensou se isso era um sinal de que deveria voltar a beber. Mas não bebia há anos e uma cerveja lhe tirava mais do que lhe dava.
A Vila Madalena era ali, na rua cheia de samba. No Carnaval o tempo não conhece passado e qualquer história encontra redenção. E ele era arrastado para o boteco pensando se gostaria de arriscar outra vez, ou achar a hora certa de desbravar a fila do banheiro.
Estavam ele, um saci de perna quebrada, um rapaz segurando um melão, três bonequinhas de luxo, uma loira de olhos azuis e o namorado tatuado. A cantora da banda era melhor que a Beth Carvalho. O samba era lento e a voz cheia de resignação: “Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim, mas alguma coisa acontece no quando agora em mim, cantando eu mando a tristeza embora”. Depois de dez minutos descobriu-se, não sem surpresa, que todos esperavam diante do banheiro vazio. O saci falante não testou a porta e ficou por isso mesmo.
Viu a luz do sol que rompia pela primeira vez na tarde de sábado a massa escura das nuvens acinzentadas. Das estatuas que subiam mais altas que a parede cor de vinho, um anjo era observador. Até a quarta feira de cinzas e todas as outras, entre o bar e a casa dos mortos, a folia tinha um futuro próximo. O samba é a antítese da psicanálise.
Tomou um energético, maroto para os amigos, como se bebesse absinto. Podia dançar do alto de sua cabeça, alerta e infeliz. E gargalhar e cantar a essência cultural de um país que lhe era tão estranho quanto próprio. Um menininho na garupa do pai sacolejava feliz com seu revolver de água. Carnavais tinham lhe incrustado na alma as dezenas de marchinhas que conhecia de cor. Ele que quando pequeno guardava seu estoque de serpentinas como a um tesouro. Muito antes do advento do lança perfume.
“O samba ainda vai nascer, o samba ainda não chegou, o samba não vai morrer, veja o dia ainda não raiou”. Era o pré-carnaval. Ao que o homem sereia acrescentava depois de “não vai morrer”, “Nunca”!
A Vila Madalena era ali, na rua cheia de samba. No Carnaval o tempo não conhece passado e qualquer história encontra redenção. E ele era arrastado para o boteco pensando se gostaria de arriscar outra vez, ou achar a hora certa de desbravar a fila do banheiro.
Estavam ele, um saci de perna quebrada, um rapaz segurando um melão, três bonequinhas de luxo, uma loira de olhos azuis e o namorado tatuado. A cantora da banda era melhor que a Beth Carvalho. O samba era lento e a voz cheia de resignação: “Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim, mas alguma coisa acontece no quando agora em mim, cantando eu mando a tristeza embora”. Depois de dez minutos descobriu-se, não sem surpresa, que todos esperavam diante do banheiro vazio. O saci falante não testou a porta e ficou por isso mesmo.
Viu a luz do sol que rompia pela primeira vez na tarde de sábado a massa escura das nuvens acinzentadas. Das estatuas que subiam mais altas que a parede cor de vinho, um anjo era observador. Até a quarta feira de cinzas e todas as outras, entre o bar e a casa dos mortos, a folia tinha um futuro próximo. O samba é a antítese da psicanálise.
Tomou um energético, maroto para os amigos, como se bebesse absinto. Podia dançar do alto de sua cabeça, alerta e infeliz. E gargalhar e cantar a essência cultural de um país que lhe era tão estranho quanto próprio. Um menininho na garupa do pai sacolejava feliz com seu revolver de água. Carnavais tinham lhe incrustado na alma as dezenas de marchinhas que conhecia de cor. Ele que quando pequeno guardava seu estoque de serpentinas como a um tesouro. Muito antes do advento do lança perfume.
“O samba ainda vai nascer, o samba ainda não chegou, o samba não vai morrer, veja o dia ainda não raiou”. Era o pré-carnaval. Ao que o homem sereia acrescentava depois de “não vai morrer”, “Nunca”!
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
* * * *
a noite reza em seu silêncio
as figuras do tempo
e no escuro, tingidas lentamente
as ultimas alegorias de brilho
e além
um corpo em descanso
e o branco da lua
o esquecer do mar
e o frescor da brisa
e a alma que adormece
na efígie do eterno, do encontro
de lua e mar, na noite de um dia
as figuras do tempo
e no escuro, tingidas lentamente
as ultimas alegorias de brilho
e além
um corpo em descanso
e o branco da lua
o esquecer do mar
e o frescor da brisa
e a alma que adormece
na efígie do eterno, do encontro
de lua e mar, na noite de um dia
sábado, 19 de janeiro de 2008
sem o céu que protege
“Someone once had said to her that the sky hides the night behind it, shelters the person beneath from the horror that lies above.”
Cada detalhe de seu apartamento, das ruas onde morava e trabalhava, da padaria onde tomava seus cafés da manhã, pedindo, inocentemente, “o de sempre”, pareciam agora transformados por uma espécie de desolação. Do consultório onde atendia dois ou três pacientes antes do almoço, até o Café onde lia durante a tarde, e depois ao voltar ao consultório para os pacientes da noite, ele experimentava uma variedade de sentimentos, uma imersão em suas faltas e solidão, em suas perdas e ressentimentos.
A noite era diferente. Ao avistar o gato que o esperava na porta do hall de entrada como um protótipo da carência, a miar compulsivamente e a segui-lo pelo apartamento, ele como que desistindo, e refém de uma sensação no meio do peito, deitava-se no chão de madeira. Uma vez ele fechou a janela pelos vizinhos. Em outro momento, totalmente imóvel e em silêncio, contemplara os fragmentos de frases que paravam em seu pensamento como galhos quebrados á beira de um rio.
Mas não seria diferente. Ao ler o “Céu Que Nos Protege” durante à tarde, ele encontrou uma frase e a releu varias vezes: “He was somewhere, he had come back through vast regions from nowhere; there was certitude of an infinite sadness at the core of his consciousness, but the sadness was reassuring, because it alone was familiar.” Era a segunda vez que ele se lançava aos abismos do livro de Paul Bowles. No verso da capa estavam o seu nome, e abaixo, escritos a mão, o lugar e a data: Nova York, 1995.
A hora dos porquês tinha passado. Uma década de Psicologia não o tinham libertado de nada senão da própria psicologia. Certas coisas são como são. Como vivê-las era o que ele queria aprender. Como suportar o que fugia totalmente ao seu controle, das coisas que lhe eram tão caras, e tão determinantes para a sua vida - para a vida como ele queria e cultivara.
Depois de quatro dias, a legião de fantasias e idéias distorcidas, cheias de medo, criaram seu mal estar. Imaginou na voz dela, algumas vezes, a frase que remediaria a sua pena como um ópio. Lembrou o que havia lhe dito o seu terapeuta no momento em que, duas horas antes, ele tentava explicar sobre o céu, que fica entre nós e a noite; o céu que para ele era o amor, e que tinha sido ela. Mas do nada, sem explicação, ouviu: “Você tem que aprender a se perdoar. Já está na hora”.
Cada detalhe de seu apartamento, das ruas onde morava e trabalhava, da padaria onde tomava seus cafés da manhã, pedindo, inocentemente, “o de sempre”, pareciam agora transformados por uma espécie de desolação. Do consultório onde atendia dois ou três pacientes antes do almoço, até o Café onde lia durante a tarde, e depois ao voltar ao consultório para os pacientes da noite, ele experimentava uma variedade de sentimentos, uma imersão em suas faltas e solidão, em suas perdas e ressentimentos.
A noite era diferente. Ao avistar o gato que o esperava na porta do hall de entrada como um protótipo da carência, a miar compulsivamente e a segui-lo pelo apartamento, ele como que desistindo, e refém de uma sensação no meio do peito, deitava-se no chão de madeira. Uma vez ele fechou a janela pelos vizinhos. Em outro momento, totalmente imóvel e em silêncio, contemplara os fragmentos de frases que paravam em seu pensamento como galhos quebrados á beira de um rio.
Mas não seria diferente. Ao ler o “Céu Que Nos Protege” durante à tarde, ele encontrou uma frase e a releu varias vezes: “He was somewhere, he had come back through vast regions from nowhere; there was certitude of an infinite sadness at the core of his consciousness, but the sadness was reassuring, because it alone was familiar.” Era a segunda vez que ele se lançava aos abismos do livro de Paul Bowles. No verso da capa estavam o seu nome, e abaixo, escritos a mão, o lugar e a data: Nova York, 1995.
A hora dos porquês tinha passado. Uma década de Psicologia não o tinham libertado de nada senão da própria psicologia. Certas coisas são como são. Como vivê-las era o que ele queria aprender. Como suportar o que fugia totalmente ao seu controle, das coisas que lhe eram tão caras, e tão determinantes para a sua vida - para a vida como ele queria e cultivara.
Depois de quatro dias, a legião de fantasias e idéias distorcidas, cheias de medo, criaram seu mal estar. Imaginou na voz dela, algumas vezes, a frase que remediaria a sua pena como um ópio. Lembrou o que havia lhe dito o seu terapeuta no momento em que, duas horas antes, ele tentava explicar sobre o céu, que fica entre nós e a noite; o céu que para ele era o amor, e que tinha sido ela. Mas do nada, sem explicação, ouviu: “Você tem que aprender a se perdoar. Já está na hora”.
espera
essa falta
é o avesso da sua presença
é a sua presença sem a paz
que a tua presença me traz.
essa ausência
é o próprio desconhecido
é um não aceitar, incontido
- o próprio reconhecido,
do próprio que não se vai.
e essa versão de saudade
sofrendo de liberdade
padece da inquieta espera
do amor
e seus doces medos.
do amor que vela o sonho do amor,
do amor que responde ao silêncio.
do amor que alucina as distâncias
em esferas de esquecimento.
essa falta,
avesso da sua presença.
é o avesso da sua presença
é a sua presença sem a paz
que a tua presença me traz.
essa ausência
é o próprio desconhecido
é um não aceitar, incontido
- o próprio reconhecido,
do próprio que não se vai.
e essa versão de saudade
sofrendo de liberdade
padece da inquieta espera
do amor
e seus doces medos.
do amor que vela o sonho do amor,
do amor que responde ao silêncio.
do amor que alucina as distâncias
em esferas de esquecimento.
essa falta,
avesso da sua presença.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
4:46
não anoitece mais
dia após dia
esse escuro de fim de tarde
seguindo
parando o tempo
não sei se acordei
ainda noite
não pude ver, qual luz
se dormia, se sonhava
que distancia
eu media, ou que hora
de espera
ou que pena
dia após dia
esse escuro de fim de tarde
seguindo
parando o tempo
não sei se acordei
ainda noite
não pude ver, qual luz
se dormia, se sonhava
que distancia
eu media, ou que hora
de espera
ou que pena
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Robert Frost
"Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;
Then took the other, as just as fair
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that, the passing there
Had worn them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
two roads diverged in a wood, and I -
- I took the one less traveled by,
And that has made all the difference."
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;
Then took the other, as just as fair
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that, the passing there
Had worn them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
two roads diverged in a wood, and I -
- I took the one less traveled by,
And that has made all the difference."
sábado, 24 de novembro de 2007
Bowles em Bertolluci
"Because we don't know when we will die, we get to think of life as an inexhaustable well. Yet everything happens only a certain number of times, and a very small number really. How many more times will you remember a certain afternoon of your childhood, some afternoon that is so deeply part of your being, that you can't even conceive of your life without it. Perhaps four or five times more, perhaps not even that. How many more times will you watch the full moon rise? Perhaps 20. And yet it all seems limitless."
Willy
"Shall I compare thee to a Summer's day?
Thou are more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And Summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd:
But thy eternal Summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st:
So long as men can breathe, or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee."
Thou are more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And Summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd:
But thy eternal Summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st:
So long as men can breathe, or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee."
domingo, 18 de novembro de 2007
Keats
"That I might drink, and leave the world unseen,
And with thee fade away into the forest dim:
Fade far away, dissolve, and quite forget
What thou among the leaves hast never known,
The weariness, the fever, and the fret
Here, where men sit and hear each other groan;
Where palsy shakes a few, sad, last gray hairs,
Where youth grows pale, and spectre-thin, and dies;
Where but to think is to be full of sorrow
And leaden-eyed despairs,
Where Beauty cannot keep her lustrous eyes,
Or new Love pine at them beyond to-morrow..."
And with thee fade away into the forest dim:
Fade far away, dissolve, and quite forget
What thou among the leaves hast never known,
The weariness, the fever, and the fret
Here, where men sit and hear each other groan;
Where palsy shakes a few, sad, last gray hairs,
Where youth grows pale, and spectre-thin, and dies;
Where but to think is to be full of sorrow
And leaden-eyed despairs,
Where Beauty cannot keep her lustrous eyes,
Or new Love pine at them beyond to-morrow..."
domingo, 11 de novembro de 2007
prece
ah meu irmão
salgaste meus olhos
você que conhecia o mundo
quando eu, da velha casa
apenas vigiava lá fora
irmão das maiores euforias
de todos por todos nós
ramo da familia
nosso semblante de ilusão
imagina-lo assim
tão preso a nós e
tão sozinho:
o filho da frente
o filho pródigo -
que fardo levaste
abandone
a insignia desse ramo
de sonho a espinho
a hora da tua vida
te pede
salgaste meus olhos
você que conhecia o mundo
quando eu, da velha casa
apenas vigiava lá fora
irmão das maiores euforias
de todos por todos nós
ramo da familia
nosso semblante de ilusão
imagina-lo assim
tão preso a nós e
tão sozinho:
o filho da frente
o filho pródigo -
que fardo levaste
abandone
a insignia desse ramo
de sonho a espinho
a hora da tua vida
te pede
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
O Passado (de Babenco)
O Passado (continuação)
partida que volta
intriga do tempo
manhã que entardece
um crepúsculo negro
o presente retorna
nas feridas do agora
das chagas as flores
da vida: os amores
e se o amor encerra
a saga da hora
na fuga, a demora
da espera, um alento
o presente é retorno
e o passado revive
no sonho sem tempo
dos amores que tive
do passado perdido
um presente partido
e um passado presente
perdido no sempre
intriga do tempo
manhã que entardece
um crepúsculo negro
o presente retorna
nas feridas do agora
das chagas as flores
da vida: os amores
e se o amor encerra
a saga da hora
na fuga, a demora
da espera, um alento
o presente é retorno
e o passado revive
no sonho sem tempo
dos amores que tive
do passado perdido
um presente partido
e um passado presente
perdido no sempre
terça-feira, 30 de outubro de 2007
um corpo
um corpo entre outros
(noite e vigília)
corpo de alma
de gozo e poesia.
da-se em atos
despercebidos
corpo retiro
do mundo no mundo.
meu corpo, de novo
(sombra de alma)
corpo que sangra
um copo de vida:
flecha e alvo,
luz e espelho
voz e soneto:
toca e vibra.
lembra de tudo
corpo partido
dor por não te
ter
corpo em suplício.
corpo e silêncio
que corpo, traído
que em ti, ainda pede
sonha, perdoa?
corpo de corpos
de amor, de limites
tão quente, de tudo
que chora, que diz.
um corpo não mente
comove, e doente
sente de novo
e se cura de si.
um corpo arrebata
de longe, ou cansado
corpo que resta
sozinho, alado.
corpo memória
e corpo futuro
corpo que agora
me faz
escrever
(noite e vigília)
corpo de alma
de gozo e poesia.
da-se em atos
despercebidos
corpo retiro
do mundo no mundo.
meu corpo, de novo
(sombra de alma)
corpo que sangra
um copo de vida:
flecha e alvo,
luz e espelho
voz e soneto:
toca e vibra.
lembra de tudo
corpo partido
dor por não te
ter
corpo em suplício.
corpo e silêncio
que corpo, traído
que em ti, ainda pede
sonha, perdoa?
corpo de corpos
de amor, de limites
tão quente, de tudo
que chora, que diz.
um corpo não mente
comove, e doente
sente de novo
e se cura de si.
um corpo arrebata
de longe, ou cansado
corpo que resta
sozinho, alado.
corpo memória
e corpo futuro
corpo que agora
me faz
escrever
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
D. H. Lawrence
"All I care about in a man
is that unbroken spark in him
where he is himself
undauntedly.
And all I want is to see the spark flicker
vivid and clean.
But our civilisation, alas,
with lust crushes out the spark
and leaves men living clay.
Because when the spark is crushed in a man
he can't help being a slave, a wage-slave,
a money-slave."
is that unbroken spark in him
where he is himself
undauntedly.
And all I want is to see the spark flicker
vivid and clean.
But our civilisation, alas,
with lust crushes out the spark
and leaves men living clay.
Because when the spark is crushed in a man
he can't help being a slave, a wage-slave,
a money-slave."
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
João Paiva
do querido amigo e colega João, homem de mil mitos
"Há de abrir-se a flor do espinheiro
num manancial de ternura.
E da haste da fraqueza há de abrir-se,
um ninho de cuidado.
Onde as chagas serão flores,
na palma do coração.
E as dores, frutos alados,
na palma do coração.
E no sal da criança em madureis
há de vir o habitante do inóspito,
sem banir da haste o vulnerável.
Nos remansos da inquietude
esse cordão de alma
vige numa espera,
Que rasga, a cada vez,
as malhas de lã de ferro
coladas na pele,
abrindo brechas."
"Há de abrir-se a flor do espinheiro
num manancial de ternura.
E da haste da fraqueza há de abrir-se,
um ninho de cuidado.
Onde as chagas serão flores,
na palma do coração.
E as dores, frutos alados,
na palma do coração.
E no sal da criança em madureis
há de vir o habitante do inóspito,
sem banir da haste o vulnerável.
Nos remansos da inquietude
esse cordão de alma
vige numa espera,
Que rasga, a cada vez,
as malhas de lã de ferro
coladas na pele,
abrindo brechas."
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
União
Quando duas almas se encontram, tudo o que compõe os dois seres pede para ter um lugar. Como se não houvesse uma voz que não pudesse ser ouvida. Como se não houvesse uma nuança do rosto que não pertencesse a vida. E é esse o desafio do amor: o impacto da verdade de cada um.
O amor é o abrigo das maiores alquimias. E é no enlace do amor que um vínculo estranho se dá - como quem enraíza os pés descalços na terra quente. Como quem reencontra a União. É disso que falam os místicos; que delineiam os poetas. E é nisso que resvalam os psicólogos, os que perderam um pouco do orgulho, pelo menos. Há um encontro para cada um de nós. E um encontro em nós. O resto, é esperança.
Portanto, não percamos de vista o pedido do coração. Não afugentemos as dores e as penas da alma que revive. É possível caminhar de mãos dadas, e as mãos se dão.
O amor é o abrigo das maiores alquimias. E é no enlace do amor que um vínculo estranho se dá - como quem enraíza os pés descalços na terra quente. Como quem reencontra a União. É disso que falam os místicos; que delineiam os poetas. E é nisso que resvalam os psicólogos, os que perderam um pouco do orgulho, pelo menos. Há um encontro para cada um de nós. E um encontro em nós. O resto, é esperança.
Portanto, não percamos de vista o pedido do coração. Não afugentemos as dores e as penas da alma que revive. É possível caminhar de mãos dadas, e as mãos se dão.
Cosmic Superimposition
"Let us forget for a moment all the complicated higher functions that later are added to natural superimposition. Let us reduce it all to functioning beyond the individual and even the realm of the species. Let us penetrate deeply enough to see this function as an energy process that runs a certain course quite autonomically and with unequivocal effect. If we do this, then we see in it a trans-individual event, something that takes charge of life and governs it."
Wilhelm Reich
Wilhelm Reich
Rumi
"If anyone asks you
how the perfect satisfaction
of all our sexual wanting
will look, lift your face
and say,
Like this.
When someone mentions the gracefulness
of the nightsky, climb up on the roof
and dance and say,
Like this.
If anyone wants to know what "spirit" is,
or what "God’s fragrance" means,
lean your head toward him or her.
Keep your face there close.
Like this.
When someone quotes the old poetic image
about clouds gradually uncovering the moon,
slowly loosen knot by knot the strings
of your robe.
Like this.
If anyone wonders how Jesus raised the dead,
don’t try to explain the miracle.
Kiss me on the lips.
Like this. Like this.
When someone asks what it means
to "die for love," point
here.
If someone asks how tall I am, frown
and measure with your fingers the space
between the creases on your forehead.
This tall.
The soul sometimes leaves the body, then returns.
When someone doesn’t believe that,
walk back into my house.
Like this.
When lovers moan,
they’re telling our story.
Like this.
I am a sky where spirits live.
Stare into this deepening blue,
while the breeze says a secret.
Like this.
When someone asks what there is to do,
light the candle in his hand.
Like this.
How did Joseph’s scent come to Jacob?
Huuuuu.
How did Jacob’s sight return?
Huuuu.
A little wind cleans the eyes.
Like this.
When Shams comes back from Tabriz,
he’ll put just his head around the edge
of the door to surprise us
Like this."
how the perfect satisfaction
of all our sexual wanting
will look, lift your face
and say,
Like this.
When someone mentions the gracefulness
of the nightsky, climb up on the roof
and dance and say,
Like this.
If anyone wants to know what "spirit" is,
or what "God’s fragrance" means,
lean your head toward him or her.
Keep your face there close.
Like this.
When someone quotes the old poetic image
about clouds gradually uncovering the moon,
slowly loosen knot by knot the strings
of your robe.
Like this.
If anyone wonders how Jesus raised the dead,
don’t try to explain the miracle.
Kiss me on the lips.
Like this. Like this.
When someone asks what it means
to "die for love," point
here.
If someone asks how tall I am, frown
and measure with your fingers the space
between the creases on your forehead.
This tall.
The soul sometimes leaves the body, then returns.
When someone doesn’t believe that,
walk back into my house.
Like this.
When lovers moan,
they’re telling our story.
Like this.
I am a sky where spirits live.
Stare into this deepening blue,
while the breeze says a secret.
Like this.
When someone asks what there is to do,
light the candle in his hand.
Like this.
How did Joseph’s scent come to Jacob?
Huuuuu.
How did Jacob’s sight return?
Huuuu.
A little wind cleans the eyes.
Like this.
When Shams comes back from Tabriz,
he’ll put just his head around the edge
of the door to surprise us
Like this."
poema cru (ou repetição)
traído pela fonte
vi morrer meu avô
um amigo advertida
mente, chutou-me no rosto
perdi a virgindade
e troquei a inocência
por um cálice de vinho.
Parti
elegi uma cidade
elegi um amor
mas não escolhi
fui ensandecendo
fui, e incandesci
de novo partindo
de novo perdi
que novo?
voltei
chove copiosamente
ouço música
não lembro as palavras
(e estou cansado)
continua voltando
continuo voltando?
até quando,
pra onde
vi morrer meu avô
um amigo advertida
mente, chutou-me no rosto
perdi a virgindade
e troquei a inocência
por um cálice de vinho.
Parti
elegi uma cidade
elegi um amor
mas não escolhi
fui ensandecendo
fui, e incandesci
de novo partindo
de novo perdi
que novo?
voltei
chove copiosamente
ouço música
não lembro as palavras
(e estou cansado)
continua voltando
continuo voltando?
até quando,
pra onde
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Rabindranath Tagore
"Sou como um caminho dentro da noite, ouvindo, em silêncio, os passos da própria memória"
"Perdi minha gota de orvalho" - diz a flor ao céu, que perdeu todas as suas estrelas"
"Vivemos neste mundo quando o amamos"
"Os homens são cruéis, mas o Homem é bom"
"Meu amor, não peço para entrar em tua casa. Vem tu para minha infinita solidão"
"Deus prefere as lamparinas dos homens às suas estrelas imensas"
"Coração meu, procura tua beleza no movimento do mundo, assim como o barco encontra sua graça na agua e no vento"
"Meu Deus, aqueles que possuem tudo menos a ti, riem-se daqueles que nada possuem, além de ti"
"O sofrimento do amor canta em torno da minha vida como o mar insondável, e a alegria do amor canta como os pássaros nos bosques floridos"
"Este é o mundo das tempestades selvagens, domadas pela música da beleza"
"Em seu amor, Deus beija o finito; o homem beija o infinito"
"Deus fica esperando que o homem se torne criança na sabedoria"
"E minha ultima palavra é esta: Eu confio em teu amor"
"Perdi minha gota de orvalho" - diz a flor ao céu, que perdeu todas as suas estrelas"
"Vivemos neste mundo quando o amamos"
"Os homens são cruéis, mas o Homem é bom"
"Meu amor, não peço para entrar em tua casa. Vem tu para minha infinita solidão"
"Deus prefere as lamparinas dos homens às suas estrelas imensas"
"Coração meu, procura tua beleza no movimento do mundo, assim como o barco encontra sua graça na agua e no vento"
"Meu Deus, aqueles que possuem tudo menos a ti, riem-se daqueles que nada possuem, além de ti"
"O sofrimento do amor canta em torno da minha vida como o mar insondável, e a alegria do amor canta como os pássaros nos bosques floridos"
"Este é o mundo das tempestades selvagens, domadas pela música da beleza"
"Em seu amor, Deus beija o finito; o homem beija o infinito"
"Deus fica esperando que o homem se torne criança na sabedoria"
"E minha ultima palavra é esta: Eu confio em teu amor"
John Donne
"No man is an island, entire of itself
every man is a piece of the continent, a part of the main
if a clod be washed away by the sea,
Europe is the less, as well as if a promontory were,
as well as if a manor of thy friends or of thine own were
any man's death diminishes me, because I am involved in mankind
and therefore never send to know for whom the bell tolls
it tolls for thee."
every man is a piece of the continent, a part of the main
if a clod be washed away by the sea,
Europe is the less, as well as if a promontory were,
as well as if a manor of thy friends or of thine own were
any man's death diminishes me, because I am involved in mankind
and therefore never send to know for whom the bell tolls
it tolls for thee."
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
poema em feminino
refém do tempo
vou sucumbindo ao feminino
desses gestos, desde ventos
densa curva dos cabelos,
e deixando dissipar a agonia
e preso a um exercício
toda a irrupção da liberdade:
são gestos vermelhos, estes
numa escolha dos meus olhos:
os detalhes de uma saia
o relevo atrevido de uma coxa
a sarda mal contada de um seio
menor e irascível
quase improdutivo
quanta desproporção numa flauta
e no meio de tanta coisa
de tanta fala inaudível
estou ali
tenho certeza
a magia incandescente
a impropriedade absurda
a imensa delicadeza
vou sucumbindo ao feminino
desses gestos, desde ventos
densa curva dos cabelos,
e deixando dissipar a agonia
e preso a um exercício
toda a irrupção da liberdade:
são gestos vermelhos, estes
numa escolha dos meus olhos:
os detalhes de uma saia
o relevo atrevido de uma coxa
a sarda mal contada de um seio
menor e irascível
quase improdutivo
quanta desproporção numa flauta
e no meio de tanta coisa
de tanta fala inaudível
estou ali
tenho certeza
a magia incandescente
a impropriedade absurda
a imensa delicadeza
Rumi
“We are the mirror as well as the face in it.
We are tasting the taste this minute
of eternity. We are pain
and what cures pain, both. We are
the sweet cold water and the jar that pours.
I want to hold you close like a lute,
So we can cry out with loving.
You would rather throw stones at a mirror?
I am a mirror, and here are the stones.”
We are tasting the taste this minute
of eternity. We are pain
and what cures pain, both. We are
the sweet cold water and the jar that pours.
I want to hold you close like a lute,
So we can cry out with loving.
You would rather throw stones at a mirror?
I am a mirror, and here are the stones.”
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
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me despeço também de você
o que é mais dificil
porque des pedir de você
é morrer
é ter morrido
é quase estar morto
mas eu tenho que nascer
outra vez
adeus olhos meus
o que é mais dificil
porque des pedir de você
é morrer
é ter morrido
é quase estar morto
mas eu tenho que nascer
outra vez
adeus olhos meus
intregrar
se entregar e se integrar
ao vivo com o não vivo
na contração da expansão
e infindas circulares
in vortexis azuis
os rodopios dervixes
de intencionalidade e amor
e talvez nos aproximemos
- tu e eu
e talvez nossas estrelas
como entes perdidos
que nas noites mais claras
revelam-se
- sejam olhos luminosos
e ao se integrar, se entregar
na evocação e na distância
na sombra dos movimentos incompletos
no fluxo desses deuses
a respiração
a convulsão em silêncio
e ainda assim
e ainda sim
se entregar e se integrar
ao vivo com o não vivo
na contração da expansão
e infindas circulares
in vortexis azuis
os rodopios dervixes
de intencionalidade e amor
e talvez nos aproximemos
- tu e eu
e talvez nossas estrelas
como entes perdidos
que nas noites mais claras
revelam-se
- sejam olhos luminosos
e ao se integrar, se entregar
na evocação e na distância
na sombra dos movimentos incompletos
no fluxo desses deuses
a respiração
a convulsão em silêncio
e ainda assim
e ainda sim
se entregar e se integrar
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Manuel
"Vão demolir esta casa.
Mas meu quarto vai ficar,
Não como forma imperfeita
Neste mundo de aparências:
Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, com seus quadros,
Intacto, suspenso no ar!"
Mas meu quarto vai ficar,
Não como forma imperfeita
Neste mundo de aparências:
Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, com seus quadros,
Intacto, suspenso no ar!"
fazenda
adeus barra funda
ainda
impregna tua areia
ainda chove em teu verde
à noite
escuto a tua mata
mas
adeus
deixo você, e em cada canto
em você, sabe, de mim
tão de mim
minha raiz do teu solo
minha ressaca adolescente
no nascer do teu dia
pula Samba, derruba o refugo
"Ourora" de ouro
puro sangue inglês
nos sonhos, tuas casas
que nunca ruínas
tu, guardas minha alma
que eu cuido de ti
de longe
saudoso
te digo, o adeus
a deus, barra funda
a Deus
ainda
impregna tua areia
ainda chove em teu verde
à noite
escuto a tua mata
mas
adeus
deixo você, e em cada canto
em você, sabe, de mim
tão de mim
minha raiz do teu solo
minha ressaca adolescente
no nascer do teu dia
pula Samba, derruba o refugo
"Ourora" de ouro
puro sangue inglês
nos sonhos, tuas casas
que nunca ruínas
tu, guardas minha alma
que eu cuido de ti
de longe
saudoso
te digo, o adeus
a deus, barra funda
a Deus
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