sábado, 19 de janeiro de 2008

sem o céu que protege

“Someone once had said to her that the sky hides the night behind it, shelters the person beneath from the horror that lies above.”

Cada detalhe de seu apartamento, das ruas onde morava e trabalhava, da padaria onde tomava seus cafés da manhã, pedindo, inocentemente, “o de sempre”, pareciam agora transformados por uma espécie de desolação. Do consultório onde atendia dois ou três pacientes antes do almoço, até o Café onde lia durante a tarde, e depois ao voltar ao consultório para os pacientes da noite, ele experimentava uma variedade de sentimentos, uma imersão em suas faltas e solidão, em suas perdas e ressentimentos.
A noite era diferente. Ao avistar o gato que o esperava na porta do hall de entrada como um protótipo da carência, a miar compulsivamente e a segui-lo pelo apartamento, ele como que desistindo, e refém de uma sensação no meio do peito, deitava-se no chão de madeira. Uma vez ele fechou a janela pelos vizinhos. Em outro momento, totalmente imóvel e em silêncio, contemplara os fragmentos de frases que paravam em seu pensamento como galhos quebrados á beira de um rio.
Mas não seria diferente. Ao ler o “Céu Que Nos Protege” durante à tarde, ele encontrou uma frase e a releu varias vezes: “He was somewhere, he had come back through vast regions from nowhere; there was certitude of an infinite sadness at the core of his consciousness, but the sadness was reassuring, because it alone was familiar.” Era a segunda vez que ele se lançava aos abismos do livro de Paul Bowles. No verso da capa estavam o seu nome, e abaixo, escritos a mão, o lugar e a data: Nova York, 1995.
A hora dos porquês tinha passado. Uma década de Psicologia não o tinham libertado de nada senão da própria psicologia. Certas coisas são como são. Como vivê-las era o que ele queria aprender. Como suportar o que fugia totalmente ao seu controle, das coisas que lhe eram tão caras, e tão determinantes para a sua vida - para a vida como ele queria e cultivara.
Depois de quatro dias, a legião de fantasias e idéias distorcidas, cheias de medo, criaram seu mal estar. Imaginou na voz dela, algumas vezes, a frase que remediaria a sua pena como um ópio. Lembrou o que havia lhe dito o seu terapeuta no momento em que, duas horas antes, ele tentava explicar sobre o céu, que fica entre nós e a noite; o céu que para ele era o amor, e que tinha sido ela. Mas do nada, sem explicação, ouviu: “Você tem que aprender a se perdoar. Já está na hora”.

Nenhum comentário: