terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

cinzas

Sua viagem tinha durado dois dias. Ele não precisou resistir. A pequena cidade tinha sido invadida por visigodos, e sobrevivia vendendo mantimentos inflacionados. Mulheres eram o artigo de luxo e podiam ser disputadas por agarrões, perseguições implacáveis, beijos-surpresa, e até tropeções. Descamisados, os foliões exibiam suas correntes de prata, e as tatuagens borrão cintilavam ao mormaço interiorano. Foi confundido duas vezes por um turista estrangeiro. O melhor item gastronômico era um churros de doce de leite, que dourando ao sol, tinha uma tendência ao brilho e um tônus peculiar. Depois de duas noites, abandonou o barco. O naufrágio era certo. Como dizia a marchinha: “São almas penadas dançando no além”.
Na casa, a melhor companhia e a melhor trilha sonora da região eram enriquecidas por vodcas ao flash power, haxixe, cannabis ativa e um LSD anfetamínico de efeito surpreendente. Apoderou-se de um pandeiro dos tempos de PUC e quase furou a lamina sonora algumas vezes. Foi testemunha da loucura alheia. Sua vigília era uma autentica manifestação da impossibilidade de dormir sem algum tipo de exaustão. Não era alheio a tudo aquilo, mas não conjugava. Nos olhos dos melhores amigos as flamas da incerteza eram suficientes.
De volta a São Paulo foi atropelado por um bloco de maracatu. O primeiro estacionamento selou o destino do carro e ele seguiu sem descobrir o rumo. Mais tarde informações desencontradas deram três endereços finais para a turba. Ninguém sabia para onde estava indo. Viu duas vezes o filme dos irmãos Coen. Veria o rosto de Tommy Lee Jones outras trinta.
Foi redimido pelo Ó do Borogodó. Há dois anos essa espelunca cheia de alma tinha entrado no roteiro de sua vida. Desta vez, com seus amigos, exorcizou até a gripe que o elegera na noite fria de São Luis. O Ó.

Um comentário:

Unknown disse...
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