quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Waterloo

As vezes era impossivel tratar com seu pai como se ele estivesse vivo. Certamente seu pai, sentado diante dele, tomando um dry martini, mexendo o queixo, suspirando, esse homem de setenta e dois anos -esse homem frágil- não estava no tempo presente. Seu pai fazia vozes com bonequinhos na mão; seu pai sentava no quarto do hospital depois da cirurgia; seu pai o levava ao campeonato de futebol do Paulistano; seu pai estava morto e falavam dele; seu pai brincava com o seu filho, aquele que não nasceu. Seu pai dava risada no sétimo tempo. Mas aquele homem mastigando um amendoim, criticando suas roupas, fazendo perguntas: onde estava? Onde estavam?
Quando deixaria de ser filho de seu pai - quando deixaria de ser filho? Seu pai, seu avô, seu irmão, seu outro irmão, vivos e mortos. Um dia bebeu demais e apareceu na casa do irmão as seis da manhã. Chorou por quarenta minutos e foi embora. Ainda podia ver seu tio fumando um cigarro na noite de natal, com um foulard de ceda no pescoço. Lá estavam os seus primos. O maconheiro, o suicida, o homossexual, o ladrão, o pai de três filhos.
"Você pode imaginar o que foi a batalha de Waterloo para a França"? Sinceramente, não.

2 comentários:

Unknown disse...

ainda bem que "primos" está no masculino, senão ia ser "pobrema" ;-)

pra "aliviar o clima", dá uma olhada nas "aventuras do vovô-garoto". é de rolar de rir:
http://www.tudopalhaco.blogspot.com/
(é o post de 30/07/08)

FCDV disse...

nao sou eu, é o meu eu lirico. meus primos trabalham no mercado financeiro... o vovo-garoto tem patente, que p. é éssa!